08 junho 2011

De volta pra casa


me reencontrei em londres
um fantasma que nao me visitava
chegou falando uma mistura pouco usual de linguas
o dia estava chuvoso, como se nao pudesse ser diferente
e mais uma vez eu queria ter a sensação de que você estava por perto
talvez por sentir tua presença, ou nao
talvez por sentir-me só e ter os olhos marejados
e então querer que toda a profundidade da minha tristeza voltasse
e me levasse de volta pro meio do inferno que sempre vivi tão bem

o problema de envelhecer são os vazios que carregamos
não um vazio de busca do novo, de potencialidades
mas um vazio daquilo que se foi e não mais se preencheu
o som do piano baixinho decora o quarto do hotel
sufocando meu choro e minha nostalgia

estou calmo e tranquilo, mas no caminho errado
entram as trompas...e sua imagem, no alto
traz a suavidade das cordas que nos ataram de forma tão enigmática
o que é o certo?
volta a fazer frio, mas o piano lento e arrastado continua a me aquecer
a pouca luz me ajuda a perder a dimensao da distancia que ficou em mim
no choro contido pergunto por mim...e o tema completa mais uma volta
como se o piano me desse o ombro e deixasse que o menino finalmente encontrasse um colo
e assim chorasse copiosamente
e acreditasse, simplesmente acreditasse...
apenas acreditasse... todos os dias

03 julho 2008

À deriva


Conduzido a chicote pelos caminhos da vida, construi o labirinto onde me perdi de mim. Sei o meu lugar, mas não me encontro nele. Pregador da renúncia, não me desapego. Narciso cego, amo a máscara. Afogado nas minhas verdades, não posso resgatá-las das profundezas. Então eu lavo as mãos, rio dos meus conflitos e sigo à deriva nesse "grande mar que cerca a ilha de náufragos que é a vida".

21 janeiro 2008

O resgate do Traficante


I.
O dia não amanheceu.
Eu me encontrava acordado
O sonho não aconteceu
A vida tomou novos rumos
e um estranho parecia habitar meu espelho

O problema dos dias cinzentos
é que dão a impressão de que o sol morreu
de que a alegria não mais nos servirá
de que a nossa capacidade de amar amarelou
de que a nossa energia pra renascer
deu lugar a uma morte lenta e amarga,
de que somos desinteressantes e feios,
de que não merecemos alguém, que porventura,
ainda se engane (ainda) nos querendo bem,
seja porque não percebeu que um monstro passou a nos habitar,
seja porque sabota o nosso 'mood' de "não sou digno de amor".

Não caibo na minha casa
Não sirvo nas minhas roupas
Não gosto dos meus livros
Não me aguento mais
Não me encontro em mim

Não consigo gostar
Não almejo sorrir
Não suporto ninguem
Não preciso acordar
Minha barba cresce me aproximando de mim
Meu sono me alivia do peso das horas que custam a passar
Meu sexo é apenas um lembrete
de que ainda existe vida em alguma parte do meu ser
Meu nexo é apenas um farolete
cujo alcance não me permite ver futuro além da próxima hora.


II.
O dia amanheceu
Saí do tunel que me aprisionava
Não me questiono por onde andei
mas como fui parar lá?

Não me censuro pelo que fiz
mas como nao percebi?

Não me torturo por que não fui
mas como não retornei?

E entendo que não sou mais aquela pessoa
e que simplesmente fluí,
como aquele rio pelo qual ninguém passa uma segunda vez
Mas fluí livre, com minha própria energia
renascendo e ressucitando meu ser
me resgatando em cada pedra, cada tombo
em cada queda, cada encontro,
em cada sonho e cada assombro
em cada choro, cada desconforto
em cada dor, em cada confronto
cada solidão, cada desencontro
em cada mão, em cada ombro
em cada chão, em cada pranto
em cada colo, cada acalanto
em cada flor, em cada encanto
em cada reza, em cada manto
em cada toque, em cada ponto
que me trouxe a mim
forte
feliz
realizado
pronto pra recomeçar

...mas agora completo

18 novembro 2007

A morte nossa de cada dia


Fui ao meu enterro hoje
Alias...entendi como tenho morrido todos os dias.
Fitei um caixão, com a certeza de que parte de mim estava encerrada,
enterrada pra todo o sempre.

Não falo com tanta tristeza,
mas com toda a impotência que senti ao descer com aquele caixão.
Achava que a vida estava dentro de mim,
mas entendi que esteve em cada interação que vivi.
Achava que a vida estava cercada na ilha que somos, cada um de nós,
e mais uma vez, entendo que está e esteve em cada nós que vivemos a cada dia.

Falta poesia pra expressar esse sentimento,
falta emoção pra exagerar esse pensamento,
falta intensidade pra gravar esse momento.

Não consegui entender meu amigo dentro daquela estante de madeira
não consegui medir a tristeza daquele momento.
No meu egoísmo...só pensei no quanto eu deixei de viver aquela potencialidade,
no quanto eu deixo de trocar, de interagir com pessoas que me dizem.

O que é a vida senão viver?
O que é a morte?

Penso no que eu mesmo tanto digo...
"a vida é o que acontece com você enquanto está ocupado fazendo outros planos" (JLennon)
"mesmo um relógio quebrado está certo duas vezes por dia"

Afinal, não importa aonde estamos ou o que estamos fazendo,
estamos em algum lugar,
estamos em algum momento,
e é nesse preciso momento que a nossa vida está acontecendo.
Portanto, a arte da vida está em fazer desse momento um momento de vida.

Tem tantas pessoas com quem eu poderia viver tanto...
Tenho tantas chances de criar uma vida significativa...
e cada momento não vivido é um momento "morrido"

A vida poderia ser levada à uma nova dimensão.
Uma dimensão de alegria, de troca, de vida.
Gostaria de pedir desculpas a todas as pessoas com quem morri
Gostaria de tentar entender porque eu nao vivi quando eu pude
Gostaria de voltar àquele cemitério pra me resgatar...

Hoje eu entendo que parte importante da minha vida já foi enterrada.
E me surpreendo de não ter tido a dimensão de entender
o quanto de mim era sepultado em cada uma daquelas cerimônias...
partes importantes de uma história que ficaram sem fim
partes de uma potencialidade de troca que agora fogem à minha capacidade de vivenciar.

Me pergunto então o quanto deixei de viver,
o quanto deixei de brincar, de rir, de chorar, de tocar...de trocar.
Minha capacidade de vida está ligada à minha capacidade de interação.
E agora que pessoas se foram, vejo o quanto meu mundo encolheu.

Não meço meus dias pela quantidade de horas
mas pela intensidade das trocas.
Sou tão extenso quanto consigo me dar.
Sou tão intenso quanto consigo tocar.
Sou tão imenso.

O mundo tem medo de si
as pessoas se contraem
Como dizia Wilde, parecem mendigos...esfomeados
Vivas aos que tem coragem, aos que trocam...aos que vivem.
Pois a troca é a única forma de contato, o único meio de entendermos
de sermos, de nos plastificarmos.

A cada vez que volto ao cemitério sinto uma estranha sensação de "casa"
de saber que tanto de mim já foi lá imortalizado...ou finalizado.

Novas portas se abrem a cada dia.
Novas chances de comunicar, de trocar, de viver.
Começo a entender algo que me assusta.
Começo a mudar meu conceito de existência.
Entro em metamorfose.

30 setembro 2007

Divagações: essência


Corajosa evolução: permanecer quem você é.

03 fevereiro 2007

Diálogos: de mim para ti


Liberte-me: livre-se de mim.

22 janeiro 2007

Minhas palavras...seus sentimentos


Não tente me encontrar em minhas palavras
busque você
Não tente me descobrir em minhas metáforas
ouça o que vibra em você
Não tente entender minha poesia
Essa é a minha droga, a minha utopia
Essa é a minha toca, a minha abadia
a minha morte, a minha alegria
Esse é o meu delírio

Não me reduza a uma sopa de letras
não me traduza
Não me seduza
Não me encomende desculpas
Não me comente
Não se contente

Não critique meus pontos
entenda que são apenas contos
Não simplifique os entornos
olhe pra dentro
Não classifique os pronomes
Não troque os nomes
Não adjudique os sentidos
Não esclareça os perigos

Quando me ler, ouça você
Se não fizer sentido
aceite minhas desculpas pelo tempo perdido
Minha poesia transcende a mim
Minha loucura espalha o carmim
Minha caneta tem vida própria
Meu silêncio entorna, derrama, exclama

Meu desespero não é meu
é apenas a reverberação da tua alma

Meus textos não deviam ser levados a sério
saem porque latejam
escorrem rápido
sem tempo de censura
sem lógica e sem mesura
sem ética, sem tortura
como um desejo
quase um lampejo
um alívio
um gozo
Saem porque tem que ser
caem porque são pesados pra ficar no ar
tocam quem têm que tocar
Sou apenas um meio
tenho apenas um veio
Aqui não amo, nem odeio

Não me confunda com o que lê
Apenas leia
Não interprete, sinta
Não me pergunte, intua
nao me responda

Faço porque gosto
pelo simples prazer de acabar
pelo simples voar
pelo simples voltar
pelas distâncias que percorro pra chorar
pelas nuanças das frases, das crases
pela alegria, pela covardia
pela parceria

"O Poeta é um fingidor"
o leitor é um caçador
o poeta mente
o leitor sente
o poeta seduz
o leitor consente
o poeta exagera, aumenta
o leitor pondera, acrescenta
o poeta é falso, se corrompe
o leitor é livre
o leitor é um voyeur
vibra, ama, chora, cora
grita, despreza, toca, sufoca
...lê
...caminha
...em uma única direção
...a de si mesmo

20 janeiro 2007

Podia...mas nao fui

Entre o que eu podia e o que eu não fui
mais uma vez parado na ponte
mais uma vez com o mundo nas costas
mais uma vez com a angústia me corroendo e me corrompendo
eu posso parar o trem a qualquer minuto
eu posso mudar a vida a qualquer hora
mas assisto a crônica da morte anunciada
assisto sonhos partindo sem conseguir olhar nos olhos da vida
assisto o tudo que poderia....porque eu não fiz ser

Só há uma forma de viver. Vivendo.
Tudo o mais é morte.
E eu morro a cada dia.
Carregando potencialidades comigo.
Contemplando possibilidades.
Me preparando pra uma guerra que nunca vai existir.
A vida passa...eu fico.
Hoje...mais uma vez faltou coragem.
Faltou certeza.
Uma certeza que nem existe, nem nunca existira.
Hoje faltou renúncia.
Hoje faltou ação.
Hoje faltou verdade.
Hoje sobrou saudade.
Hoje meus olhos quase me trairam.
Minhas lágrimas quiseram vazar.
Minhas páginas quiseram mostrar.
Mas eu teimo em deixar tudo voar.
Em deixar tudo acabar.
Em deixar tudo continuar...à margem de mim.

Tenho medo de estar morrendo
Tenho medo de estar me despedindo de tudo.
Tenho medo de estar me desculpando pro mundo.
Será que só eu penso que poderei errar
Será que só eu sinto viver personagens que não são minhas.
Será que só eu lamento pelo que possa dar errado antes mesmo de começar.
Volto a pedir que a inconseqüência guie os meus atos.
Que a lama toda me alcaçe os sapatos.
Que a vida aconteça.
Que o dia amanheça.

Eu sou o vigia do mundo.
Responsável por tudo e todos ao meu redor.
Eu não erro.
Eu não ferro.
Eu sou bom.
Eu sou limpinho.
Eu sou meigo.
Eu sou doce.
Eu sou culto.
Eu sou certo.
Eu sou concreto,
educado,
discreto,
calejado,
direto,
um soldado.

Eu sou tudo o que se pode querer que alguem seja.
Mas minha vida está passando....e tudo está errado.
Tudo está manchado.
Tudo está dobrado....pois nada é usado.
Que a inconseqüência guie os meus atos.
Que a incoerência crie os meus fatos
Que a maledicência venha
Que o conflito venha também.
Que a disputa venha...com seus louros e seus espinhos
pra que eu possa sentir o sabor de ambos.
Mas que eu viva uma vida normal
Que eu crie uma história mortal.
Que tenha risos, que tenha dores.
Que tenha chuvas, que tenha flores.
Que tenha curvas, que tenha amores.
Que tenha tato, que tenha cores
Que tenha olfato, que tenha odores
Que seja normal.

Chega de confusão
Chega de excessos
Chega de abundância
Chega de retrocessos

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo"

18 janeiro 2007

Desperto


Voa meu passáro,
busca a vida sem medos e sem preconceitos
Tua gaiola ficou aberta por que esse era o teu desejo
tua lanterna ficou acesa porque buscavas caminhos
Leva contigo todas as possibilidades do nosso amanhã
Deixa comigo todos os fragmentos do nosso verão
Deixa a saudade....deixa a latência
Usa a verdade e não esquece da aparência
Pois essa é tão ou mais importante que a outra
pois é a moeda do mundo
é o passaporte pro inferno

Soltei todos os meus pássaros
A vida cativa matava algo dentro de mim
A escravidão do meu olhar me nauseava e me amargava
O acoite do meu toque me surpreendia no meu próprio sentido de mim
Quis todos os meus pássaros voando livres
Fiz todos meus diálogos pra viver leve, dormir tranquilo
Pra poder não acreditar em mais nada nem ninguem
Pra poder não esperar mais nada de ninguém
Pra poder não roubar suspiros
pra poder não chamar vampiros
pra poder cravar com tiros as vítimas da minha soleira

Soltei teus laços
Abri meus braços
Cantei as nossas músicas pra me esquecer
guardei as minhas suplicas pra te poupar
Tentei limpar as memórias também
Tentei lembrar de te ver com alguém
Calei sozinho, pensei no espinho, sem ter ninguém
Tudo isso pra ficar só
Tudo isso pra voltar pra casa
Tudo isso pra fechar as feridas e abrir as asas

Que raio de egoísmo é esse que abre mão do doce
que raio de fascismo é esse que sempre me envolve
que ponto de partida é esse ao qual sempre retorno
que saco de pancada é esse que eu sempre me torno
que medo de tristeza é esse que sempre me espreita
que tipo de ternura é essa que sempre me corta
que tipo de amargura é essa que sempre me volta
que tão sutil teu jeito que às vezes me falta
que tão gentil teu peito que sempre me acalma
que tão febril teu leite
que tão pueril teu flerte

Se eu nao tivesse medo de viver
faria cinco encarnações nessa existência
Se eu nao tivesse medo de ferir
daria vida então à toda a minha incoerência
Se eu nao tivesse um jeito de implodir
viveria toda a poesia que jamais escreverei
Se eu fosse mais livre de mim
Se eu fosse mais dono de mim
enfim

Hoje as pessoas estão todas com a garantia vencida
Meu primeiro tiro falhou
Talvez fosse o único
...e eu acreditando ainda ter balas na agulha
Hoje eu não consigo mais acreditar em ninguém
não tenho mais tempo pra me entregar
nao tenho mais forças pra me resgatar
Assisto de longe...resisto

Pra onde olho vejo mendigos
mendigos de dignidade
mendigos de atenção
mendigos de afinidade
mendigos de coração
mendigos da sociedade
mendigos da situação
Não tenho pares pra continuar
Não tenho ares pra me guiar
não tenho bares pra me embriagar
não tenho um copo amigo
nao tenho um abrigo...um lar

Minhas palavras ficaram sem eco
Minhas lembranças sem teto
Meus anseios ficaram no asfalto
meus receios me assaltam
minha esperança ficou sem atores
minha criança sem fronte
minha certeza sem fonte
minha prudência sem norte
minha doçura sem pote
dispersa
sem sorte
imersa
sem volta
morta

15 dezembro 2006

Prece por uma morte leve


Jaz tua culpa numa sombra de árvore. Fecha a janela e contempla uma nova paisagem. Nada vai morrer, tudo vai brotar com saudade. Renasce em paz.

08 dezembro 2006

Divagações: O eu em mim

Minha emoção me draga da minha existência.

05 novembro 2006

Fronteiras de mim


Abro portas até então fechadas pra mim
Sonhos se desfazem
indo ao nada como bolhas de sabão que estouram no ar...
Sonhos que me davam sustentação,
que me ajudavam a continuar levando,
a continuar acreditando que parte dos meus ideais fosse possível
que parte do meu passado fosse visível
que parte do meu pecado fosse perdoável

Acordo esbofeteado pela realidade
por cenas que eu poderia passar sem ver
por Helenas que podeira viver sem conhecer
por antenas que eu poderia simplesmente não ter

Mas guardo um modelo comigo
guardo com zêlo um pedaço do meu abrigo
guardo nos pelos a lembrança dos teus segredos
guardo as perguntas que eu nao entendo
e as respostas que eu não concedo
guardo o exemplo.

Meus cavalos ficaram atados às torres que foram incendiadas
Meu tabuleiro não tem mais rainha
Meus bispos rezam sem esperança de redenção
E eu redefino as bordas
Busco os novos extremos que me possam trazer de volta ao meu centro
Provo todos os venenos que me possam matar de novo em meu tempo
Conto todos os meus enganos...

17 outubro 2006

Garôa


Se não tens sono...não fiques à deriva na cama
Tome uma atitude
Não se desculpe
Até onde a falta de uma linha traz o senso crítico à tona
Quanto medíocre se pode ficar?
Quantas damas se pode usar?

Ainda não entendi o sentido das coisas
Tenho andado por novas pastagens
Tenho suado por novas paisagens
No fim tudo igual...só mudam as cores e os cheiros

A poesia ficou no passado
Talvez tenha ficado à margem de mim
Talvez meu guard-rail tenha se partido sem som

Os cantos são belos
A simbologia me traz abrigo
mas ainda não sei qual é a minha pena
nem soube quando foi a condenação...ou o motivo da acusação

Quem podeira mudar as regras desse jogo enfadonho
o dia esteve cinza...por vezes úmido
Nasce um novo estilo
surge um novo exílio

Navego em rios de aguas calmas
mas busco vãos tortuosos
minha alma está sedenta pelo novo
mas o meu...por favor com muito gelo e num copo baixo
gosto de mexer com o dedo

De contemplação eu já me enfastiei
De condecoração eu já me saciei
De paixão eu ja me afoguei
Agora eu quero entender onde está esse elefante
que eu sinto tão perto de mim
Agora em me cansei de estar errante
de estar tão longe de mim

Agora que meu choro seca minhas palavras
minha caneta escreve em outros tons
Minhas miragens emitem outros sons
Minhas bobagens revelam mais

Parti porque era tempo
Continuo sem rumo
continuo sem prumo

Brindo à morte...
porque é preciso vida pra morrer...
porque é preciso morte pra viver
porque é preciso sorte para sofrer...
porque é preciso sofrimento para ver...
porque é preciso consciência para ser...
porque é preciso ser ...
apenas ser

Divagações: Desapego


Quero abrir mão de mim
Quero abrir mão do meu desejo
Simplesmente colher as flores que encontrar no caminho
Simplesmente sorrir para os olhos que me olham sozinho
A vida não pode ser levada a sério
A vida não pode ser vivida
Não passe pela vida...
deixe que ela passe por você
...apenas exista
...apenas resista
...as penas

14 outubro 2006

Princesa Desencantada


Abdicou do trono de majestade sonhada. Faz frio no terraço do castelo impossível. No resgate da célula embrionária, pesou-lhe a responsabilidade por um organismo. Desceu da sela libertária com as mãos feridas de rédeas de muitos destinos. Sozinha no inverno de si própria, seus beijos morrem nos meus lábios desistidos.

28 setembro 2006

Diálogos: de mim para ti


Tua saudade abraça minha solidão.

19 agosto 2006

Cartas: Meus pontos

Sinto que tenhamos chegado a esse ponto...e sinto pela forma.
A vida, pra pessoas como nós, é mais do que uma conversa, um texto...é intensa...poética.
Vivemos muitas interrogações, alguns advérbios, toda a sorte de rimas e assimetrias,
muitos pronomes (às vezes os possessivos), várias figuras de linguagem, adjetivações - as boas no começo...depois, algumas que não queremos assumir, ver ou ouvir.

Mas no meio disso tudo, chega a hora de respirar, e às vezes essa é a mais difícil das decisões. Já usamos diversas virgulas, com e sem ponto em cima. Foram virgulas de duas horas, de uma noite, de uma semana, etc.

E acontece, que às vezes, uma virgula não é suficiente... e os três pontos são muito curtos pra nós. Nessa hora tentamos todo o nosso arsenal: hifens, interrogações, exclamações, e vários outros sinais que acabam escorregando e nos deixam com a impressão de algo ficou por ser dito...e essa situação não cabe para com pessoas cuja história seja tão fundamental dentro do livro de nossas vidas.

Nesse momento, precisamos experimentar o "ponto". E o grande problema do ponto é que não sabemos se ele é final ou não?!? O ponto nos deixa sem a perspectiva concreta de um novo parágrafo. O ponto nos abre para novos caminhos. O ponto fecha uma vivência. O ponto abre um desafio...que pode ter um novo título...novas personagens...outra proposta, outra métrica, outro sabor, outros sonhos, outras questões e outros problemas.

Que o nosso ponto seja colocado com honra, que seja ameno, que seja corajoso, e que dê uma pausa decente à nossa história...uma vez que temos que continuar a escrever e nem sempre podemos forçar o caminho, pois há momentos em que percebemos que a mão do destino também segura a caneta da vida.

Não sei o quanto posso dizer que te entendo nesse momento. É difícil medir o quanto o que somos para alguém está próximo do que acreditamos que sejamos - pior ainda dizer qual é o correto. Como você mesma já me disse, não importa o que fizeram de nós, mas o que fazemos do que fizeram de nós. Por isso escrevo ... pra fazer algo com o que foi feito de "nós" nos últimos tempos.

Agradeço por todo o "nós" que eu pude ter e viver nesse período. Agradeço por todo o "nós" que levo comigo. Agradeço por todo o "nós" que tanto me inspirou e tanto me ensinou a meu respeito, e lamento por todos os nós que esse "nós" tenha deixado pelo caminho, na certeza de que deles os laços tenham sido mais fortes, verdadeiros, e duradouros. Pelo menos por ora acredito na sua promessa - de que sempre estará por perto, e conto com isso profundamente. Precisamos de uma pausa, precisamos pensar, precisamos viver, a caneta precisa escrever.

Só faça o que tiver vontade, não tape buracos, pois cada um tem seu espaço e um não cabe onde outro existe. Não tenha pressa, tenha fé. Não sofra, ande, pois a vida está na estrada que deve ser percorrida. Não olhe pra trás, acredite na sua memória e no seu coração. Não seja fraca, pois és grande, tens estatura. Não se esconda.

De todas as qualidades que você sempre viu em mim, eu só consegui enxergar em você...minha outra metade.

12 agosto 2006

Ermo

Sempre mais além, sempre mais à parte, o desapegado expande o seu domínio fechando portas dentro de si. Desertor - senhor de desertos sem oásis - estende os braços para o abraço asfixiante da solidão. Abre asas, mas não se move, e retorna a si próprio ferido das batalhas que evitou.

22 julho 2006

Exílio

Urgência de inspiração e expiração da mulher rara. Frieza ainda morna do homem que se adivinhou caloroso. Amor ao próximo, desejo pelo remoto: confronto vencido pelo conforto. Paixão atemporal natimorta: valiosa informação inútil no arquivo morto. Palavras que doem no papel, feridas que sangram nas entrelinhas do contexto. Ausência. Abstinência. Carência. Saudades.
Porto um coração carregado - s e p a r a d o de mim.

15 julho 2006

Derivações: Coragem

Quem é profundo carrega um abismo sob os pés.

30 junho 2006

Derivações: Perdas

Absorve um oceano de perdas, mas não deixa naufragar a célula que te deu origem.

22 maio 2006

Divagações: Moral

A moral é uma senha para pervertidos.

15 maio 2006

Dialogos: de mim para ti

Agora que consigo chorar, minhas palavras estão secando.

08 maio 2006

Divagações: Solidão

Compartilhar o isolamento não te libertará da solidão.

19 abril 2006

Oferenda


Entende que és livre
Não culpe ninguém pelo que fez, nem pelo que deixou de fazer
Tenha sempre as convicções à mesa
não tenha medo...não seja arrogante
Entenda que os caminhos foram uma escolha tua
e não responsabiliza ninguém pela tua tristeza...nem premia pela tua alegria
Não usa ninguém pra justificar teus atos
nem peça a alguém pra calçar teus sapatos
Seja simples...simplesmente viva...livremente pense

Não tente controlar...não presuma ser objeto de controle
Ninguém pode fazer nada parecido com isso
Você é, foi e sempre será o senhor(a) de sua vontade
Por isso, não aceite nem assuma o papel de vítima
Não crie algozes...
e se a vida te der mais do que pediste,
não adormeça em berço esplêndido
Lute
Não queira viver as glórias de teus parceiros
Não se satisfaça em ser um simples ornamento
Todos nós temos nossos talentos
todos nós nascemos com nossos intentos
Acredite em quem realmente te ama
Acredite em você
Tente contar uma nova versão do seu passado...
uma em que você mesmo(a) acredite
Tente apartar a emoção do teu brado
Tente encarar a realidade
Comece por assumir seus erros
Traga sua carga pra você
É só aceitando as nossas falhas que evitaremos cometê-las novamente
Nada, nem ninguém que era tão bom pode ficar tão mau
Use o espelho, mas mire-se com atenção
pronto pra ver o monstro...e apesar disso entender que o principe (ou a princesa) também existem
Somos a latência - temos tudo em nós mesmos
Seja feliz...
mas de forma verdadeira... completa
Para ser puro é preciso saber lavar-se em agua suja
Sorrir é fácil...
mas só você conhece realmente a tua alma
O eterno feliz é o bobo...
e há tantas cortes ao nosso redor
Mesmo a felicidade tem sua hora certa pra acontecer
Assim...seja realizado (a)
tenha momentos de felicidade
E pro mundo...e pro mundo?
Sua realização move o mundo
Seu propósito cria
Você devolve um pouco do que ganhou
e isso é suficiente pra te perpetuar
Viva pra sempre...
Coragem!

(mas me deixe em paz)

17 abril 2006

Derivações: Felicidade

Feliz o bobo, com tantas cortes ao redor.

06 abril 2006

Diálogos: De mim para ti

Os únicos erros que podemos pagar são aqueles que cometemos com as nossas próprias pernas.

05 abril 2006

Vertigem


Voa...voa....voa
Sobe alto e rasga esse pano azul
grita forte
abre o silêncio do medo
mostra o domínio do tempo
ama como se houvesse rede
e cai pra poder voltar a si
como se mergulhasse pra vida
como se fosse necessário lembrar que a solidão é inexorável

Canta...canta...canta
canta encantada e me inunda
dorme acordada e me invade
pra que quando houver amanhã
eu perceba que o ontem foi um preâmbulo desnecessário
e que o passado foi uma ilusão movediça e desprovida de senso
pois o perdão da nossa loucura ficou sem tempo
e a saudade do nosso encontro ficou sem plano
solta...ancorada na minha concepção mais ínfima
morta...sepultada na minha digressão mais íntima...lívida

Pede...pede...pede
pra que esse instante seja intocado
pra que esse espanto seja infundado
pra que esse toque seja evitado
e que a nossa ausência seja esquecida
do mesmo jeito que apareceu
do nada
pro nada

Não lamenta pela falta de coragem
as portas do possível se abrem a cada segundo
e tudo o que não foi é morte
Não ostenta pelo excesso de saúde
a sentença será executada sem aviso prévio
e a perplexidade será maior nos olhos que assistem que nos que apagam

Olharei pra cima na noite,
buscando a tua direção
Meus oceanos não tem mais bordas
e minha bússola perdeu o sentido do meu caminho
Sopra minhas velas e me leva pra casa
mas não apaga o meu fogo
não antes de queimar todos os meus pecados
não antes de velar todos os meus segredos
não antes de secar todos os meus presságios

Não interpreta minhas palavras
O buraco que ficou é inexpressável
e as entrelinhas são sujas
A saudade que lateja é suportável
e a existência insípida
Mas os cavalos continuam à frente
como se uma guerra fosse irromper
E eu evito olhar pra trás
e me descolo do meu passado...
acreditando que possa me reinventar
aceitando o novo que insiste em soprar
te procurando sempre...pra poder continuar
e iludindo a mente que aqui busca se encontrar
Se meus escritos tivessem endereço...
se meu sossego tivesse preço...

29 março 2006

Refração


Somos o que sentimos
Somos tudo o que reverberamos
Somos tudo o que vive dentro de nós
Somos tudo o que tornamos realidade pela nossa percepção
Somos toda a potencialidade que existe à nossa volta
Somos a latência
Quem somos?

Somos o que dizemos
Somos o que pensamos
Somos nossos amos
Somos o que quer que façamos de nós mesmos
..."não importa o que fizeram de nós"
Somos o que quer que olhemos nos nossos espelhos
Somos o limite extremo dos nossos artelhos
somos os joelhos...somos a sentença
Fomos ausentes...somos a doença

Se a medida da certeza fosse a madrugada
eu não teria tempo...eu não veria nada
Se o sentido da saudade fosse a consciência
eu dormiria cedo...eu não teria alento
Se o segredo da passagem fosse mais estreito
eu viveria sóbrio...
e seria apenas um sopro de vento
e seria ameno e estaria atento
sem palavras
sem lamentos
sem verbo
sem sentimentos
livre
sem pensamentos
sem cor
sem questinamentos
sem sabor
sem ensimanentos
sem pontuação
sem lições
sem intenções
simples
sem fim

09 março 2006

Epílogo


Mais uma página se apaga na areia
o vento traz novos rumos
o tempo faz novos elos
a agua leva os farelos

O silêncio é novo para quem ouve
as cinzas ficam inertes
os ombros ficam mais leves
os dois finais se encontram no tempo e no espaço

Quem estaria presente se houvesse amanhecer?

Ao contrário de tudo o que se viu
os signficados já eram maduros
e os sinais foram traiçoeiros desde o início
Quais seríam as evidências da mudança
se o desespero não forçasse os rumos?

E o limite foi além da resistência
em águas revoltas
em barcos instáveis
em almas vulneráveis

E as bandeiras ficaram rasgadas
e os rostos se mostraram
e as maneiras traíram
e as fraquezas ressurgiram
e sobrepujaram o belo
e desafiaram o que era esperado

Já vi castelos ruírem
já vi gigantes sucumbirem
já vi a tristeza
já vi a cicatriz latente
ja fiz o corte
já duvidei da sorte

Se os temas pudessem ser escolhidos
se os lemas fossem seguidos
se os poemas soprassem nos meus ouvidos
então a morte seria breve
mas os abismos não
e o meu galope seria leve
e o ceticismo um dom

Enquanto houver vida haverá talvez
pois as portas permanecem fechadas
e a repetição absolve culpa das nossas derrotas
Enquanto houver sonho havera nudez
pois mesmo envoltos em nossas fachadas
o desalento salta aos olhos
e torna patente a desolação

Não é a profundidade que traz o encanto
nem mesmo a sorte
nem mesmo a rigidez que torna santo
não é a dor
nem mesmo a dor
que põe no olhar um sentido próprio
Sejamos plácidos
Sejamos práticos
Sejamos lúcidos

Se o sentido fica vago ou mesmo ausente
é na estética que me apoio pra seguir em frente
sem rumo e sem rima
sem prumo e sem sina
puro, sem preocupações
completo, sem abreviações
discreto por opção
mas sem dividas e sem perdões
sem dúvidas e sem sermões
contraditório, sempre
explícito, para quem pode ver
solícito, mas sem parecer
ilícito.

26 fevereiro 2006

Diálogos: de irmão para irmão


Não te desejo a sorte...apenas lucidez

23 fevereiro 2006

Retrocesso (sem pontas nem pontos)


Sonhos desagregados e a realidade insana e pagã
Homens desfigurados vivendo a utopia de ser o amanhã

E os mundos e os curdos e os mudos
e os tudos e nadas
e as fadas e as cartas trocadas nos jogos
nas idas mais voltas nas vidas revoltas
e o velho mais novo e a gente mais povo
e o povo que o diga cansado de ovo
Que ovo
Colombo quilombo que assombro
eu me encontro sozinho calado no ninho
pensando chorando gritando baixinho
mas como se é alto o barulho de um grito
o efeito do mito
e é bom que se diga que eu sempre critico
eu te sigo e te minto eu te agrido e te imito
e retorna ao umbigo a criança a mãe
a aliança o noivado o namoro
algum tom de esperança e com som de vingança e rancor

Nos cantos dos quartos os santos
nas vozes os prantos nos cortes as cores
nas mortes as dores na fronte os temores
no riso o que fores sem por sem tirar

Na busca a promessa na estrada o castigo
nos olhos o fogo na alma a ferida
no sexo a medida do pouco que vales
no corpo o reflexo dos próprios pesares

No peito o tormento na boca um lamento
no sono o teu rosto no colo o teu gosto
no tempo um remédio na vida só o tédio

Saudade sentença de vida
sem mão sem ferida sem pão
sem comida sem chão sem saída
nem vão
nem tem vindo ilusão

De cama já basta a dormida na noite passada
De chama já basta o teu nome que eu chamo pra nada
De lama so resta o futuro
e há quem diga que eu jure que vive num muro
E se vive eu te juro
eu não sei se é seguro

O fato é que a gente não paga
E de longe a rotina é que faz nossa estrada

E as Anas sensatas e as Bias beatas
mas mesmo assim chatas
as damas
as damas
que o tempo consome num par de semanas

Sonhos que devem vingar
Bocas que devem tocar
Vidas que eu tento criar
nos lábios que eu tanto desejo e não ouso beijar
Mas sei que fui eu quem ficou
Me sinto atrasado
pois fui passageiro de um trem que jamais passou
Estou arrasado
aquele tempo que mal começara acabou

16 fevereiro 2006

Vácuo


Como os versos nos fogem dos dedos
Roubam nossas mais leves melodias
Levam embora a sílaba que nos deixa com a boca semi-aberta
Entoando uma lágrima que nem nasce e nem rola
Apenas salga e mareia a visão
Na medida exata da angústia...ou talvez da solidão
No vazio opaco do vácuo...ou talvez na escuridão
No silêncio roubado da vida...ou talvez do teu perdão

Chora enquanto pode
A vertigem secará teu coração.

30 janeiro 2006

Chamado


Claro que eu sinto muito!!!!
Lamento todo o sofrimento que se criou
Aguento firme...pois é o mínimo que eu devo nessa situação
Um dia espero te ter por perto de novo
Dividindo um pouco desse teu mundo maravilhoso
Inundando meus dias com a tua serenidade
Amarrando meu velho barco...no teu porto seguro

Remos....ficaram pelo caminho
Ondas...me levam para um destino que eu desconheço
Zombando da minha falta de direção

Calma, serena, traquila
Lúcida...mas leve
Árida...mas só na superfície
Uma pessoa definitiva
Definitivamente especial pra mim
Imã que desorienta todos os meus sentidos
Astro que ofusca meu espaço

Refém eu fico, refém me encontro
Onde quer que eu ande, onde que eu eu vá
Zéfiro...teu cheiro me alcança até em sonho

Comedida em cada passo
Leve como a vida deve ser
Amante da discrição
Ubiqua
Dança uma música que só eu ouço
Inverte a minha percepção de vida
Acorda meus mais remotos sentimentos

Realiza até meus desejos mais secretos
Olha por mim a cada passo...e me passa
Zunindo com sua luz e energia

Choro que não rola de mim
Luto que me sufoca
Amizade que me falta e me esvazia
Ulcerando meu dia e agitando meu sono
Deixa eu fingir que ainda te tenho aqui
Iludindo o que me queima de saudade
Acalmando o que me inunda de ansiedade

Ri de mim porque sou fraco
Ora por mim...pois continuo
Zanzando em devaneios pra te definir

Ainda que eu não consiga entender os caminhos de hoje
Ultrapasso meus limites pra ficar longe de ti
Receando estar do lado errado...às vezes
Outras...com a certeza de te libertar para vôos mais altos

17 janeiro 2006

Homem médio


Homem-massa, homem-rebanho, servo das pequenas virtudes, homúnculo incorrigível: simula de grande homem, mas só atinge a média pré-estabelecida.

Homem médio, minúsculo homem médio, poço imundo de tédio, pesado anão: não é a altura que fortalece, é a queda que só o declive pode proporcionar.

Inofensivo predador, selvagem animal de estimação: afie suas guerras! Você pode ter que dar a pata, se não quiser estender a mão!

Humanidade domesticada: chora o seu destino.

Esta terra é um vale de lágrimas a escorrer. ..

18/01/2006

05 janeiro 2006

Sentidos tortos


Volto à caverna
sem ter tido o tamanho do meu silêncio
Volto à caserna
sem ter comigo a lembrança da minha guerra
Volto ao umbigo
sem ruído...sem ter visto a luz
sem ter lido a sentença do meu destino
sem ter na carne a chaga do meu martírio
sem ter na face a sina do meu menino.

Mas afinal...quem sou eu?
o que fui não me pertence
o que ruí não me alcança
o que vem não me toca
o que vai, vai sem troca
o que cai não me choca
nada mais me abala
ninguém mais me fala
nem tampouco importa.

Sou um buraco que eu mesmo fiz
sou um retrato que nada diz
sou um processo, que por um triz
ficou sem terra, ficou sem giz
tomou o inferno por seu país
e fez da saudade uma meretriz
pra em sua alcova se divertir
e na nostalgia poder dormir
e nessa orgia se distrair
e nesse dia se convencer
sem alegria, sem padecer
sem gritaria, sem alarde
sem putaria, sempre covarde
sempre de dia, sempre à tarde
sempre sem rumo, sempre sem arte.

Torto,
sem ruído,
sem ser notado,
sem ser vivido,
sem ser visto,
sem sentido.

06/01/06

11 dezembro 2005

Ocaso


Cai a noite, cai a semana, cai a vida
Caio eu
Quero a referência que traga novo chão aos meus pés
Quero a deferência que traga nova direção aos meus passos
Quero a indiferença que traga novas mãos aos meus braços
Quero a inocência que permita aos meus dias nascerem puros de novo

Onde ficaram meus planos ?
Onde queimaram meus mapas ?
Onde secaram meu sono ?
Onde atearam meu fogo ?
Onde...onde ?

Onde deixaram meu siso ?
Onde roubaram meu riso ?
Onde acertaram meu tiro ?
Onde me deram retiro ?
Onde me enterram ainda vivo ?
Onde ?...Onde ?

Onde me fazem de tolo ?
Onde me ferem com dolo ?
Onde me mostram consolo ?
Onde me seguem, onde me pedem ?
Onde me impedem, onde me impelem ?
Onde ?...Onde ?

Meus abismos se fecham sobre mim
meus caminhos estão todos sem fim
meus meninos morreram em mim
meus meninos pereceram no veneno de mim

Meu desejo me alimentou
meu desejo me sustentou
meu desejo me viciou
meu desejo me lacerou
meu desejo me matou, e se matou também

Agora preciso morrer
agora preciso deixar-me ir
agora preciso da dor
agora preciso da cor
agora mais do que nunca.
Agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso

A rebeldia fez de mim alguém diferente
a persistência pôs a minha estrada à frente
a leniência me fez um alvo inocente
e a paciência me sufocou lentamente

Assim caí
assim fiquei
assim aprendi que a morte é necessária
assim aprendi que a sorte é temporária
assim aprendi que a vida é solitária
assim aprendi que a história é traiçoeira
assim aprendi a cair
assim aprendi a sangrar
assim aprendi a chorar

e o gosto de sal na minha boca
me trouxe as certeza de que eu retornaria
como o sol que comigo descia
como o mar que comigo dormia
como o par... que comigo paria.

11/12/2005

Brios


Recua para dar um grande salto! Ultrapassa a muralha que isola o teu reino mental, expulsa a desgraça da torre e contempla o sol de uma verdade sangrenta: quem é profundo carrega um abismo sob os pés!

Se ¨a vaidade é a pele da alma¨, o orgulho ferido é uma monstruosa cicatriz... Tatua seus íntimos encantos sobre a deformidade dessa derme! Devolve as chagas para quem quer sofrer na cruz!

Ser mártir não é tarefa para medíocres... Seja medíocre! Antes o abrigo coletivo que uma cama ao relento, melhor o conforto do rebanho que o dilaceramento da carne à sangue-frio!

Conecta o distante, desenterra o futuro e recompõe o caos. A eternidade do tempo é prerrogativa futura de tudo que é mortal.

Despe a couraça que reveste os teus brios!
Sonhos vastos jamais passarão pela abertura de três milímetros da tua íris... Filtra teus pesadelos!
O efeito é o delírio.
10/11/2005

Instintos



Vivo entre minha raiva e minha biologia
Fico mais longe a cada passo que dou
Sei que devia ter parado, minha alma pede descanso há tempos
A culpa incorpora as minhas ressacas
O medo se alimenta de minhas esperanças
O silêncio, um antigo amigo, agora me assombra
Sinto o exato limite onde deixo de ser
Sou o retrato de um crime, onde eu devo morrer

Minhas verdades ficaram no tempo em que eu era alguém
um tempo em que um espelho era suportável
um tempo em que eu sentia ser parte de algo
um tempo em que eu não via meu fim como algo necessário
(talvez necessário pra muitos)

Minhas certezas foram todas embora
Minhas riquezas foram todas deixadas
Meus amigos foram todos seguir suas vidas
e eu descobri não ter uma
Meus parentes ficam se perguntando onde estou
Meus pedaços se repelem em asco
Minhas lembranças se tornaram estranhas para o que me tornei
Minhas heranças são um fardo pra quem possa chorar ao ler meu epitáfio

Meu conflito açoitou inocentes
meu grito calou
Meus atos fizeram de minha imagem
a sombra de uma vergonha para os meus
Minha saliva secou as bocas que me deram morada
Minha saudade selou a forca que me impingi
Meu sêmen jorrou

Quero sair pelo mundo
andar sem destino
chorar sem alívio
Quero a purificação
quero o descanso
quero o fim desses dias
uma vida já foi suficiente pra mim
uma partida já foi clara pra um sim
um lamento
um sorriso
um caminho
um adeus

08/11/2005

A escolha


Mais um dia surgindo pela frente
luz, barulho, agitação
Minha cabeça começa a girar
a vida encosta em mim e começa a me empurrar
Como uma parede que se move e nos leva adiante
independente do que possamos querer
Sempre em frente, não há como parar
onde estou?
pra onde vou?
como vim parar aqui?
quando comecei?
quando me perdi?

Tornei-me personagem de uma história que não é minha
estou fechado pra o que quer que a vida me ofereça
como um rádio que perdeu sua frequência
como um sonho que perdeu sua sequência.

28/10/2005

O Intervalo, a ponte e o nada


Entre as margens,
entre as vidas, há pontes
entre o ser e o viver...

Entre os ponteiros do relógio não há pontes.
Entre o perder e o realizar,
o viver e o existir.
Entre o acordar e o despertar,
o querer e o desejar.
Entre o pensar e o agir,
o sonhar e o existir.
Entre o ódio e a ação,
entre a dor e a paixão, há pontes.

Entre as margens.
Entre as margens há hesitação,
há corrupção.
Entre as margens há veneno.

Entre as marges há delírio,
há martírio.
Entre as margens há desencontro.

Entre as margens há urgência,
pra que a insanidade não consuma o ser
pra que a humanidade não corrompa o ter
pra que a ansiedade não corroa
pra que a falta de claridade não cegue
pra que a vida não cesse.

Que as pontes caiam
seguindo os passos da travessia.
Que as noites caiam também.
Que as pontes tenham prazo
pra que a vida se mova, ainda que aleatoriamente
e então possamos acreditar que o destino é feito a cada passo
a cada sorriso e a cada grito,
a cada toque... a cada atrito.
E que possamos descobrir que cada ponte foi um momento de morte
e que a nossa loucura nasceu e cresceu nesses intervalos
e que o controle saiu das nossas mãos
pois as decisões eram menos importantes
uma vez que a busca era interna...
...e que o destino estava dentro de nós.
Quero coragem pra ancorar meus pesadelos

07/10/2005

Divagações: Felicidade

Alegria modesta, felicidade possível.
2005

Passagens

Cruzo uma porta
piso no novo
Apesar de tudo
o passado ficou muito justo pra mim
Espero uma banda completa passar
com milhares de soldados marchando pelas avenidas de minha insanidade
como um ziper que aos poucos fecha o tentador e ilusório mundo do "se"
O inverno em minha vida aqueceu

Fecho uma era
Fecho uma cratera cheia de amargura, ressentimentos e expectativas vazias
como noivas deixadas num altar,
como vidas amareladas,
como velas não acendidas,
como promessas nunca cumpridas
como promessas que se tornaram dívidas
Fecho essa conta pela qual sempre sangrei

Deixo uma âncora no mar
Deixo um peso no ar
Deixo uma nau sem rumo vagar
Deixo a chantagem
Deixo a loucura
Deixo a empafia
Deixo o menino de quem não sou pai...nem mãe

Hoje é dia de luto
Hoje tudo é branco
Hoje eu volto ao trabalho de parto
e felizmente busco ressucitar pois já estou farto de renascer
Hoje eu me volto para o dia
pois a missão de resgate foi abortada na noite passada

Por onde andei por tanto tempo?

20/10/2005

Vibrações

Era a mesma música
a mesma música insistindo em se fazer ouvir
e nossos corpos ficavam livres de nós
livres de nossas mãos
livres de nossos encontros
e eu corria pra ver o sol nascer de novo
mas sabia que você era igual a mim
e também continuava me perguntando o por que de tudo aquilo

Era a mesma intuição
a mesma sensação de estar escrevendo com você ao meu lado
esperando um sinal,
fazendo promessas e esperando que o sinal abrisse a chance de mudar tudo
como quando criança, esperando que um carro azul passasse
que a luz piscasse, que o telefone tocasse
mas sabia que você sentia o mesmo que eu
e também continuava se perguntando o por que de tudo aquilo

Era a mesma paixão
a mesma fogueira consumindo cada migalha da minha consciência
e eu buscando lutar
lutar contra tudo e todos só pra entender que no fim...
só pra entender que no fim minha emoção era eu
e minha razão todas as fantasias que eu criei
todas as nostalgias que eu sangrei, todas as alegrias que eu nem sei,
nem usei, nem vivi, nem fechei nem abri

Mas acordei com a sensação de ter um grande lago à frente da minha janela
com patos barulhentos acordando a lua
com toda a minha infância a encostar na tua
com toda a semelhança que aprendi ser sua
e eu deixei parte de mim
só pra poder voltar mais uma vez
só pra poder pensar em não ter mais talvez
só pra poder me achar e te perder de vez?

Era a mesma noite
eu continuava escrevendo mas agora só
certo de que aquelas vibrações encerravam seus sinos
de igrejas distantes a te chamar
de aldeias estranhas, do além mar
de caminhos abertos sem mais chorar
de olhos cobertos pra não me olhar

Era a mesma pessoa
mas agora livre pra caminhar
mas agora solta pra recomeçar
mas agora envolta, agora absorta
agora inteira pra prosseguir
agora atenta pra não mais cair

Era o mesmo chão
era a mesma casa
era o mesmo país
eram as mesmas promessas
eram os mesmos olhares
era o mesmo perfume
era o mesmo desejo
era o mesmo dia
era tudo igual
Só eu não estava mais lá...

Corre pra vida, corre logo.

10/09/2005

Dias de sol


Dias de sol
Onde está o sol?
Fora de mim
Sempre fora de mim
As cores?
Fora de mim
As dores não

Eu tive mais vida
Onde esteve a vida?
Fora de mim
Sempre fora de mim
A alegria?
fora de mim
O medo não

Eu sou o reflexo do que ocorre fora de mim
Eu sou o que empresto do que existe fora de mim
Eu sou a memória de uma vida que não teve fim
Eu sou um apêndice que completa vidas fora de mim
Eu sou um capricho que decora sonhos fora de mim
Eu vivo a história de uma fuga
eu vivo o medo, eu sou a ruga

Sou o melhor companheiro pra dor
Sou quem entende o perdedor
e sou quem dá chão ao que não tentou
Eu sou o tudo que não vingou
Eu sou a morte
Eu sigo sem norte
Sou quem não paga
Sou quem se apaga
Sou quem sufoca
Sou quem se afoga
Sou quem engana e se engana
sou aquele de quem desistem
sou aquele por quem insistem
eu sou aquele

Agora chego à metade da vida
e continuo a cantar:
"tantos projetos em vão,
eu continuo sozinho e sem direção
Tantas razões pra sonhar
e eu continuo acordado esperando passar
toda essa confusão"

Se existisse algo maior
eu só pediria pra ser,
ser e deixar de estar...
estar pensando
estar medindo
estar planejando
estar no limiar do ser
estar esperando um dia sereno pra morrer

Eu queria apenas viver

Que a inconsequência guie os meus passos
e seja a faísca pra que o juízo chegue sempre atrasado à minha porta
Que a culpa saia do meu dicionário chutada pela porta dos fundos
e que a boa índole me guie pro lado direito dos dias sem sol
Que a minha condição me acorde cedo,
e que a minha fala seja mais rápida que o meu pensamento
Que a minha memória se apague, que a minha mente se cale
e que os meus medos apodreçam guardados no esquecimento
Que eu erre tantas vezes quantas me seja possível tentar
mas que eu passe a vida buscando...
e que essa busca seja desesperadamente intensa
pra que não sobre tempo pra o pensar

Que o meu pescoço enrijeça
que me tapem os olhos, como os de uma mula que só carrega os restos
mas que eu não possa olhar pra trás
que eu não possa lamentar pelo que podia ter sido, porque não fui
que eu não possa questionar meus caminhos
que eu não possa relembrar dos acertos
pra que cada recomeço seja único, sem vícios e sem dívidas
que eu viva leve, mas que eu viva inteiro
que eu viva pobre, mas que eu viva em paz
que eu viva só, mas que eu viva completo
que eu viva um dia...
...apenas um dia,
mas que esse dia anoiteça claro.

02/10/2005

Tempestades


Os dias vão
e dessas tempestades restam muitos mais...
...muitos enganos mais
tantas gerações desperdiçadas em promessas
que vão muito além de nós

Os sonhos também vão, mas certas semelhanças não nos deixam crer...
crer que ainda somos nós,
atos e palavras vão surgindo pelas frestas
e as almas já não são as mesmas
nem os traços, nem os laços
nem os passos vão pro mesmo lugar
e assim como os rios, os destinos se entornam
e já não sabemos mais quem, ou por que somos...
nem mesmo pra onde vamos.

As águas se encontram
e no teu sal minha essência se perde
e no teu leito minha fluência se inverte
nos dias calmos, correndo tranquila pelas margens
nas tempestades, chovendo.

24/09/2005

A rosa do espinho



Agora tudo parece mais calmo
Vejo beleza no meu viver
Vejo a certeza no meu ser
por ora tudo merece um aceno

Agora nada do que eu sou me soa obceno
temos tempo pra conversar
temos tempo pra trocar
por fora a fé nos dilui o veneno

Agora o tecido entre nós se refaz
temos força pra prosseguir
temos pontes pra construir
temos carma pra nos unir
temos elos, erguemos castelos

Agora a rosa aparece enfim
tem espinhos pra machucar
tem feridas pra cicatrizar
mas tem encanto pra oferecer

Entre o que somos e o que fomos sempre restou a liberdade
a liberdade de escolha
Entre o que damos e o que tomamos sempre existiu a intenção
o único motivo que importa
Entre o que vive e o que morre, "entre o ser e o nada", sempre pairei perplexo
EU QUERO VIVER!!!!!!!!!!!

22/09/2005

Num beco


No dia em que a paz chegar
minha caneta repousará
Estarei morto pra essa estrada em branco
e começarei a viver a vida
Anestesiado por me sentir completo
Amainado por me livrar do incerto

Enquanto essa viga me corta as visceras
continuarei sangrando essa estrada em azul
sangro o teu cio em mim e me sinto nu
sangro o que vaza em meu leito e me faz rarefeito
sangro o que não tenho mais...pois perdi o respeito
Grito!!!!
Grito!!!
Grito!!! Por meus defeitos
E sou o que se pode esperar de mais humano e patético
de mais mundano e apoplectico
de mais profano e morfético
"um lixo, um rato, um covarde"(W) .

22/09/2005

Girassois


Gira o sol...tudo gira
minhas mãos já sangram e se desfazem nessa vã tentativa de me manter ereto
é questão de tempo pra que esse touro me arremesse ao chão
é questão de tempo pra que eu diga não
é questão de tempo.
Minhas costas doem
minha consciência também
Não passo ileso pelos terrores da noite
nem pelas setas que de dia me castram
não tenho redenção, não tenho salvação
e os dias longos me fartam de angústia e medo

O sono encurta
os olhos sofrem de novo
a vida chama
e falta sinceridade entre nós
falta coragem
falta medicação
falta coerência
falta dedicação
falta insistência
falta paixão
sobra abstinência.

Faltam borboletas no meu jardim
falta indiferença no meu coração
falta o meu perdão
falta sossego
falta uma mão
falta o sorriso
falta firmeza
e o touro pula e gira
e o touro me guia
já é tarde pra mim

Cairei como caem sementes
Levantarei com dificuldade, mas mais uma vez
Amargarei mais uma derrota confiante de que não será a última
E serei menos explicito...
E renascerei

20/09/2005

Ciclos


Viva,
Viva por tudo o que aconteceu
viva por tudo o que nunca viveu
vivas e brindes
mas viva com coragem
viva a dor de cada passagem
viva o limíte de cada estiagem
viva o sentido do seu atrito com a vida e viva
cicatrize, rasgue a embalagem
sinta o ardor do viver
viva o pesar do sofrer
viva,
pois como o Oscar já dizia a maioria apenas existe

Mata o meu medo de viver
castra o meu modo de dizer (o que não é)
Corta o meu vício de iludir
Dá-me a abstinência do fugir
Lembra-me que antes da volta é preciso um ir,
ir e viver,
gozar e sofrer,
viva,
viva,
viva.

03/08/2005