05 abril 2006

Vertigem


Voa...voa....voa
Sobe alto e rasga esse pano azul
grita forte
abre o silêncio do medo
mostra o domínio do tempo
ama como se houvesse rede
e cai pra poder voltar a si
como se mergulhasse pra vida
como se fosse necessário lembrar que a solidão é inexorável

Canta...canta...canta
canta encantada e me inunda
dorme acordada e me invade
pra que quando houver amanhã
eu perceba que o ontem foi um preâmbulo desnecessário
e que o passado foi uma ilusão movediça e desprovida de senso
pois o perdão da nossa loucura ficou sem tempo
e a saudade do nosso encontro ficou sem plano
solta...ancorada na minha concepção mais ínfima
morta...sepultada na minha digressão mais íntima...lívida

Pede...pede...pede
pra que esse instante seja intocado
pra que esse espanto seja infundado
pra que esse toque seja evitado
e que a nossa ausência seja esquecida
do mesmo jeito que apareceu
do nada
pro nada

Não lamenta pela falta de coragem
as portas do possível se abrem a cada segundo
e tudo o que não foi é morte
Não ostenta pelo excesso de saúde
a sentença será executada sem aviso prévio
e a perplexidade será maior nos olhos que assistem que nos que apagam

Olharei pra cima na noite,
buscando a tua direção
Meus oceanos não tem mais bordas
e minha bússola perdeu o sentido do meu caminho
Sopra minhas velas e me leva pra casa
mas não apaga o meu fogo
não antes de queimar todos os meus pecados
não antes de velar todos os meus segredos
não antes de secar todos os meus presságios

Não interpreta minhas palavras
O buraco que ficou é inexpressável
e as entrelinhas são sujas
A saudade que lateja é suportável
e a existência insípida
Mas os cavalos continuam à frente
como se uma guerra fosse irromper
E eu evito olhar pra trás
e me descolo do meu passado...
acreditando que possa me reinventar
aceitando o novo que insiste em soprar
te procurando sempre...pra poder continuar
e iludindo a mente que aqui busca se encontrar
Se meus escritos tivessem endereço...
se meu sossego tivesse preço...

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