15 dezembro 2006

Prece por uma morte leve


Jaz tua culpa numa sombra de árvore. Fecha a janela e contempla uma nova paisagem. Nada vai morrer, tudo vai brotar com saudade. Renasce em paz.

08 dezembro 2006

Divagações: O eu em mim

Minha emoção me draga da minha existência.

05 novembro 2006

Fronteiras de mim


Abro portas até então fechadas pra mim
Sonhos se desfazem
indo ao nada como bolhas de sabão que estouram no ar...
Sonhos que me davam sustentação,
que me ajudavam a continuar levando,
a continuar acreditando que parte dos meus ideais fosse possível
que parte do meu passado fosse visível
que parte do meu pecado fosse perdoável

Acordo esbofeteado pela realidade
por cenas que eu poderia passar sem ver
por Helenas que podeira viver sem conhecer
por antenas que eu poderia simplesmente não ter

Mas guardo um modelo comigo
guardo com zêlo um pedaço do meu abrigo
guardo nos pelos a lembrança dos teus segredos
guardo as perguntas que eu nao entendo
e as respostas que eu não concedo
guardo o exemplo.

Meus cavalos ficaram atados às torres que foram incendiadas
Meu tabuleiro não tem mais rainha
Meus bispos rezam sem esperança de redenção
E eu redefino as bordas
Busco os novos extremos que me possam trazer de volta ao meu centro
Provo todos os venenos que me possam matar de novo em meu tempo
Conto todos os meus enganos...

17 outubro 2006

Garôa


Se não tens sono...não fiques à deriva na cama
Tome uma atitude
Não se desculpe
Até onde a falta de uma linha traz o senso crítico à tona
Quanto medíocre se pode ficar?
Quantas damas se pode usar?

Ainda não entendi o sentido das coisas
Tenho andado por novas pastagens
Tenho suado por novas paisagens
No fim tudo igual...só mudam as cores e os cheiros

A poesia ficou no passado
Talvez tenha ficado à margem de mim
Talvez meu guard-rail tenha se partido sem som

Os cantos são belos
A simbologia me traz abrigo
mas ainda não sei qual é a minha pena
nem soube quando foi a condenação...ou o motivo da acusação

Quem podeira mudar as regras desse jogo enfadonho
o dia esteve cinza...por vezes úmido
Nasce um novo estilo
surge um novo exílio

Navego em rios de aguas calmas
mas busco vãos tortuosos
minha alma está sedenta pelo novo
mas o meu...por favor com muito gelo e num copo baixo
gosto de mexer com o dedo

De contemplação eu já me enfastiei
De condecoração eu já me saciei
De paixão eu ja me afoguei
Agora eu quero entender onde está esse elefante
que eu sinto tão perto de mim
Agora em me cansei de estar errante
de estar tão longe de mim

Agora que meu choro seca minhas palavras
minha caneta escreve em outros tons
Minhas miragens emitem outros sons
Minhas bobagens revelam mais

Parti porque era tempo
Continuo sem rumo
continuo sem prumo

Brindo à morte...
porque é preciso vida pra morrer...
porque é preciso morte pra viver
porque é preciso sorte para sofrer...
porque é preciso sofrimento para ver...
porque é preciso consciência para ser...
porque é preciso ser ...
apenas ser

Divagações: Desapego


Quero abrir mão de mim
Quero abrir mão do meu desejo
Simplesmente colher as flores que encontrar no caminho
Simplesmente sorrir para os olhos que me olham sozinho
A vida não pode ser levada a sério
A vida não pode ser vivida
Não passe pela vida...
deixe que ela passe por você
...apenas exista
...apenas resista
...as penas

14 outubro 2006

Princesa Desencantada


Abdicou do trono de majestade sonhada. Faz frio no terraço do castelo impossível. No resgate da célula embrionária, pesou-lhe a responsabilidade por um organismo. Desceu da sela libertária com as mãos feridas de rédeas de muitos destinos. Sozinha no inverno de si própria, seus beijos morrem nos meus lábios desistidos.

28 setembro 2006

Diálogos: de mim para ti


Tua saudade abraça minha solidão.

19 agosto 2006

Cartas: Meus pontos

Sinto que tenhamos chegado a esse ponto...e sinto pela forma.
A vida, pra pessoas como nós, é mais do que uma conversa, um texto...é intensa...poética.
Vivemos muitas interrogações, alguns advérbios, toda a sorte de rimas e assimetrias,
muitos pronomes (às vezes os possessivos), várias figuras de linguagem, adjetivações - as boas no começo...depois, algumas que não queremos assumir, ver ou ouvir.

Mas no meio disso tudo, chega a hora de respirar, e às vezes essa é a mais difícil das decisões. Já usamos diversas virgulas, com e sem ponto em cima. Foram virgulas de duas horas, de uma noite, de uma semana, etc.

E acontece, que às vezes, uma virgula não é suficiente... e os três pontos são muito curtos pra nós. Nessa hora tentamos todo o nosso arsenal: hifens, interrogações, exclamações, e vários outros sinais que acabam escorregando e nos deixam com a impressão de algo ficou por ser dito...e essa situação não cabe para com pessoas cuja história seja tão fundamental dentro do livro de nossas vidas.

Nesse momento, precisamos experimentar o "ponto". E o grande problema do ponto é que não sabemos se ele é final ou não?!? O ponto nos deixa sem a perspectiva concreta de um novo parágrafo. O ponto nos abre para novos caminhos. O ponto fecha uma vivência. O ponto abre um desafio...que pode ter um novo título...novas personagens...outra proposta, outra métrica, outro sabor, outros sonhos, outras questões e outros problemas.

Que o nosso ponto seja colocado com honra, que seja ameno, que seja corajoso, e que dê uma pausa decente à nossa história...uma vez que temos que continuar a escrever e nem sempre podemos forçar o caminho, pois há momentos em que percebemos que a mão do destino também segura a caneta da vida.

Não sei o quanto posso dizer que te entendo nesse momento. É difícil medir o quanto o que somos para alguém está próximo do que acreditamos que sejamos - pior ainda dizer qual é o correto. Como você mesma já me disse, não importa o que fizeram de nós, mas o que fazemos do que fizeram de nós. Por isso escrevo ... pra fazer algo com o que foi feito de "nós" nos últimos tempos.

Agradeço por todo o "nós" que eu pude ter e viver nesse período. Agradeço por todo o "nós" que levo comigo. Agradeço por todo o "nós" que tanto me inspirou e tanto me ensinou a meu respeito, e lamento por todos os nós que esse "nós" tenha deixado pelo caminho, na certeza de que deles os laços tenham sido mais fortes, verdadeiros, e duradouros. Pelo menos por ora acredito na sua promessa - de que sempre estará por perto, e conto com isso profundamente. Precisamos de uma pausa, precisamos pensar, precisamos viver, a caneta precisa escrever.

Só faça o que tiver vontade, não tape buracos, pois cada um tem seu espaço e um não cabe onde outro existe. Não tenha pressa, tenha fé. Não sofra, ande, pois a vida está na estrada que deve ser percorrida. Não olhe pra trás, acredite na sua memória e no seu coração. Não seja fraca, pois és grande, tens estatura. Não se esconda.

De todas as qualidades que você sempre viu em mim, eu só consegui enxergar em você...minha outra metade.

12 agosto 2006

Ermo

Sempre mais além, sempre mais à parte, o desapegado expande o seu domínio fechando portas dentro de si. Desertor - senhor de desertos sem oásis - estende os braços para o abraço asfixiante da solidão. Abre asas, mas não se move, e retorna a si próprio ferido das batalhas que evitou.

22 julho 2006

Exílio

Urgência de inspiração e expiração da mulher rara. Frieza ainda morna do homem que se adivinhou caloroso. Amor ao próximo, desejo pelo remoto: confronto vencido pelo conforto. Paixão atemporal natimorta: valiosa informação inútil no arquivo morto. Palavras que doem no papel, feridas que sangram nas entrelinhas do contexto. Ausência. Abstinência. Carência. Saudades.
Porto um coração carregado - s e p a r a d o de mim.

15 julho 2006

Derivações: Coragem

Quem é profundo carrega um abismo sob os pés.

30 junho 2006

Derivações: Perdas

Absorve um oceano de perdas, mas não deixa naufragar a célula que te deu origem.

22 maio 2006

Divagações: Moral

A moral é uma senha para pervertidos.

15 maio 2006

Dialogos: de mim para ti

Agora que consigo chorar, minhas palavras estão secando.

08 maio 2006

Divagações: Solidão

Compartilhar o isolamento não te libertará da solidão.

19 abril 2006

Oferenda


Entende que és livre
Não culpe ninguém pelo que fez, nem pelo que deixou de fazer
Tenha sempre as convicções à mesa
não tenha medo...não seja arrogante
Entenda que os caminhos foram uma escolha tua
e não responsabiliza ninguém pela tua tristeza...nem premia pela tua alegria
Não usa ninguém pra justificar teus atos
nem peça a alguém pra calçar teus sapatos
Seja simples...simplesmente viva...livremente pense

Não tente controlar...não presuma ser objeto de controle
Ninguém pode fazer nada parecido com isso
Você é, foi e sempre será o senhor(a) de sua vontade
Por isso, não aceite nem assuma o papel de vítima
Não crie algozes...
e se a vida te der mais do que pediste,
não adormeça em berço esplêndido
Lute
Não queira viver as glórias de teus parceiros
Não se satisfaça em ser um simples ornamento
Todos nós temos nossos talentos
todos nós nascemos com nossos intentos
Acredite em quem realmente te ama
Acredite em você
Tente contar uma nova versão do seu passado...
uma em que você mesmo(a) acredite
Tente apartar a emoção do teu brado
Tente encarar a realidade
Comece por assumir seus erros
Traga sua carga pra você
É só aceitando as nossas falhas que evitaremos cometê-las novamente
Nada, nem ninguém que era tão bom pode ficar tão mau
Use o espelho, mas mire-se com atenção
pronto pra ver o monstro...e apesar disso entender que o principe (ou a princesa) também existem
Somos a latência - temos tudo em nós mesmos
Seja feliz...
mas de forma verdadeira... completa
Para ser puro é preciso saber lavar-se em agua suja
Sorrir é fácil...
mas só você conhece realmente a tua alma
O eterno feliz é o bobo...
e há tantas cortes ao nosso redor
Mesmo a felicidade tem sua hora certa pra acontecer
Assim...seja realizado (a)
tenha momentos de felicidade
E pro mundo...e pro mundo?
Sua realização move o mundo
Seu propósito cria
Você devolve um pouco do que ganhou
e isso é suficiente pra te perpetuar
Viva pra sempre...
Coragem!

(mas me deixe em paz)

17 abril 2006

Derivações: Felicidade

Feliz o bobo, com tantas cortes ao redor.

06 abril 2006

Diálogos: De mim para ti

Os únicos erros que podemos pagar são aqueles que cometemos com as nossas próprias pernas.

05 abril 2006

Vertigem


Voa...voa....voa
Sobe alto e rasga esse pano azul
grita forte
abre o silêncio do medo
mostra o domínio do tempo
ama como se houvesse rede
e cai pra poder voltar a si
como se mergulhasse pra vida
como se fosse necessário lembrar que a solidão é inexorável

Canta...canta...canta
canta encantada e me inunda
dorme acordada e me invade
pra que quando houver amanhã
eu perceba que o ontem foi um preâmbulo desnecessário
e que o passado foi uma ilusão movediça e desprovida de senso
pois o perdão da nossa loucura ficou sem tempo
e a saudade do nosso encontro ficou sem plano
solta...ancorada na minha concepção mais ínfima
morta...sepultada na minha digressão mais íntima...lívida

Pede...pede...pede
pra que esse instante seja intocado
pra que esse espanto seja infundado
pra que esse toque seja evitado
e que a nossa ausência seja esquecida
do mesmo jeito que apareceu
do nada
pro nada

Não lamenta pela falta de coragem
as portas do possível se abrem a cada segundo
e tudo o que não foi é morte
Não ostenta pelo excesso de saúde
a sentença será executada sem aviso prévio
e a perplexidade será maior nos olhos que assistem que nos que apagam

Olharei pra cima na noite,
buscando a tua direção
Meus oceanos não tem mais bordas
e minha bússola perdeu o sentido do meu caminho
Sopra minhas velas e me leva pra casa
mas não apaga o meu fogo
não antes de queimar todos os meus pecados
não antes de velar todos os meus segredos
não antes de secar todos os meus presságios

Não interpreta minhas palavras
O buraco que ficou é inexpressável
e as entrelinhas são sujas
A saudade que lateja é suportável
e a existência insípida
Mas os cavalos continuam à frente
como se uma guerra fosse irromper
E eu evito olhar pra trás
e me descolo do meu passado...
acreditando que possa me reinventar
aceitando o novo que insiste em soprar
te procurando sempre...pra poder continuar
e iludindo a mente que aqui busca se encontrar
Se meus escritos tivessem endereço...
se meu sossego tivesse preço...

29 março 2006

Refração


Somos o que sentimos
Somos tudo o que reverberamos
Somos tudo o que vive dentro de nós
Somos tudo o que tornamos realidade pela nossa percepção
Somos toda a potencialidade que existe à nossa volta
Somos a latência
Quem somos?

Somos o que dizemos
Somos o que pensamos
Somos nossos amos
Somos o que quer que façamos de nós mesmos
..."não importa o que fizeram de nós"
Somos o que quer que olhemos nos nossos espelhos
Somos o limite extremo dos nossos artelhos
somos os joelhos...somos a sentença
Fomos ausentes...somos a doença

Se a medida da certeza fosse a madrugada
eu não teria tempo...eu não veria nada
Se o sentido da saudade fosse a consciência
eu dormiria cedo...eu não teria alento
Se o segredo da passagem fosse mais estreito
eu viveria sóbrio...
e seria apenas um sopro de vento
e seria ameno e estaria atento
sem palavras
sem lamentos
sem verbo
sem sentimentos
livre
sem pensamentos
sem cor
sem questinamentos
sem sabor
sem ensimanentos
sem pontuação
sem lições
sem intenções
simples
sem fim

09 março 2006

Epílogo


Mais uma página se apaga na areia
o vento traz novos rumos
o tempo faz novos elos
a agua leva os farelos

O silêncio é novo para quem ouve
as cinzas ficam inertes
os ombros ficam mais leves
os dois finais se encontram no tempo e no espaço

Quem estaria presente se houvesse amanhecer?

Ao contrário de tudo o que se viu
os signficados já eram maduros
e os sinais foram traiçoeiros desde o início
Quais seríam as evidências da mudança
se o desespero não forçasse os rumos?

E o limite foi além da resistência
em águas revoltas
em barcos instáveis
em almas vulneráveis

E as bandeiras ficaram rasgadas
e os rostos se mostraram
e as maneiras traíram
e as fraquezas ressurgiram
e sobrepujaram o belo
e desafiaram o que era esperado

Já vi castelos ruírem
já vi gigantes sucumbirem
já vi a tristeza
já vi a cicatriz latente
ja fiz o corte
já duvidei da sorte

Se os temas pudessem ser escolhidos
se os lemas fossem seguidos
se os poemas soprassem nos meus ouvidos
então a morte seria breve
mas os abismos não
e o meu galope seria leve
e o ceticismo um dom

Enquanto houver vida haverá talvez
pois as portas permanecem fechadas
e a repetição absolve culpa das nossas derrotas
Enquanto houver sonho havera nudez
pois mesmo envoltos em nossas fachadas
o desalento salta aos olhos
e torna patente a desolação

Não é a profundidade que traz o encanto
nem mesmo a sorte
nem mesmo a rigidez que torna santo
não é a dor
nem mesmo a dor
que põe no olhar um sentido próprio
Sejamos plácidos
Sejamos práticos
Sejamos lúcidos

Se o sentido fica vago ou mesmo ausente
é na estética que me apoio pra seguir em frente
sem rumo e sem rima
sem prumo e sem sina
puro, sem preocupações
completo, sem abreviações
discreto por opção
mas sem dividas e sem perdões
sem dúvidas e sem sermões
contraditório, sempre
explícito, para quem pode ver
solícito, mas sem parecer
ilícito.

26 fevereiro 2006

Diálogos: de irmão para irmão


Não te desejo a sorte...apenas lucidez

23 fevereiro 2006

Retrocesso (sem pontas nem pontos)


Sonhos desagregados e a realidade insana e pagã
Homens desfigurados vivendo a utopia de ser o amanhã

E os mundos e os curdos e os mudos
e os tudos e nadas
e as fadas e as cartas trocadas nos jogos
nas idas mais voltas nas vidas revoltas
e o velho mais novo e a gente mais povo
e o povo que o diga cansado de ovo
Que ovo
Colombo quilombo que assombro
eu me encontro sozinho calado no ninho
pensando chorando gritando baixinho
mas como se é alto o barulho de um grito
o efeito do mito
e é bom que se diga que eu sempre critico
eu te sigo e te minto eu te agrido e te imito
e retorna ao umbigo a criança a mãe
a aliança o noivado o namoro
algum tom de esperança e com som de vingança e rancor

Nos cantos dos quartos os santos
nas vozes os prantos nos cortes as cores
nas mortes as dores na fronte os temores
no riso o que fores sem por sem tirar

Na busca a promessa na estrada o castigo
nos olhos o fogo na alma a ferida
no sexo a medida do pouco que vales
no corpo o reflexo dos próprios pesares

No peito o tormento na boca um lamento
no sono o teu rosto no colo o teu gosto
no tempo um remédio na vida só o tédio

Saudade sentença de vida
sem mão sem ferida sem pão
sem comida sem chão sem saída
nem vão
nem tem vindo ilusão

De cama já basta a dormida na noite passada
De chama já basta o teu nome que eu chamo pra nada
De lama so resta o futuro
e há quem diga que eu jure que vive num muro
E se vive eu te juro
eu não sei se é seguro

O fato é que a gente não paga
E de longe a rotina é que faz nossa estrada

E as Anas sensatas e as Bias beatas
mas mesmo assim chatas
as damas
as damas
que o tempo consome num par de semanas

Sonhos que devem vingar
Bocas que devem tocar
Vidas que eu tento criar
nos lábios que eu tanto desejo e não ouso beijar
Mas sei que fui eu quem ficou
Me sinto atrasado
pois fui passageiro de um trem que jamais passou
Estou arrasado
aquele tempo que mal começara acabou

16 fevereiro 2006

Vácuo


Como os versos nos fogem dos dedos
Roubam nossas mais leves melodias
Levam embora a sílaba que nos deixa com a boca semi-aberta
Entoando uma lágrima que nem nasce e nem rola
Apenas salga e mareia a visão
Na medida exata da angústia...ou talvez da solidão
No vazio opaco do vácuo...ou talvez na escuridão
No silêncio roubado da vida...ou talvez do teu perdão

Chora enquanto pode
A vertigem secará teu coração.

30 janeiro 2006

Chamado


Claro que eu sinto muito!!!!
Lamento todo o sofrimento que se criou
Aguento firme...pois é o mínimo que eu devo nessa situação
Um dia espero te ter por perto de novo
Dividindo um pouco desse teu mundo maravilhoso
Inundando meus dias com a tua serenidade
Amarrando meu velho barco...no teu porto seguro

Remos....ficaram pelo caminho
Ondas...me levam para um destino que eu desconheço
Zombando da minha falta de direção

Calma, serena, traquila
Lúcida...mas leve
Árida...mas só na superfície
Uma pessoa definitiva
Definitivamente especial pra mim
Imã que desorienta todos os meus sentidos
Astro que ofusca meu espaço

Refém eu fico, refém me encontro
Onde quer que eu ande, onde que eu eu vá
Zéfiro...teu cheiro me alcança até em sonho

Comedida em cada passo
Leve como a vida deve ser
Amante da discrição
Ubiqua
Dança uma música que só eu ouço
Inverte a minha percepção de vida
Acorda meus mais remotos sentimentos

Realiza até meus desejos mais secretos
Olha por mim a cada passo...e me passa
Zunindo com sua luz e energia

Choro que não rola de mim
Luto que me sufoca
Amizade que me falta e me esvazia
Ulcerando meu dia e agitando meu sono
Deixa eu fingir que ainda te tenho aqui
Iludindo o que me queima de saudade
Acalmando o que me inunda de ansiedade

Ri de mim porque sou fraco
Ora por mim...pois continuo
Zanzando em devaneios pra te definir

Ainda que eu não consiga entender os caminhos de hoje
Ultrapasso meus limites pra ficar longe de ti
Receando estar do lado errado...às vezes
Outras...com a certeza de te libertar para vôos mais altos

17 janeiro 2006

Homem médio


Homem-massa, homem-rebanho, servo das pequenas virtudes, homúnculo incorrigível: simula de grande homem, mas só atinge a média pré-estabelecida.

Homem médio, minúsculo homem médio, poço imundo de tédio, pesado anão: não é a altura que fortalece, é a queda que só o declive pode proporcionar.

Inofensivo predador, selvagem animal de estimação: afie suas guerras! Você pode ter que dar a pata, se não quiser estender a mão!

Humanidade domesticada: chora o seu destino.

Esta terra é um vale de lágrimas a escorrer. ..

18/01/2006

05 janeiro 2006

Sentidos tortos


Volto à caverna
sem ter tido o tamanho do meu silêncio
Volto à caserna
sem ter comigo a lembrança da minha guerra
Volto ao umbigo
sem ruído...sem ter visto a luz
sem ter lido a sentença do meu destino
sem ter na carne a chaga do meu martírio
sem ter na face a sina do meu menino.

Mas afinal...quem sou eu?
o que fui não me pertence
o que ruí não me alcança
o que vem não me toca
o que vai, vai sem troca
o que cai não me choca
nada mais me abala
ninguém mais me fala
nem tampouco importa.

Sou um buraco que eu mesmo fiz
sou um retrato que nada diz
sou um processo, que por um triz
ficou sem terra, ficou sem giz
tomou o inferno por seu país
e fez da saudade uma meretriz
pra em sua alcova se divertir
e na nostalgia poder dormir
e nessa orgia se distrair
e nesse dia se convencer
sem alegria, sem padecer
sem gritaria, sem alarde
sem putaria, sempre covarde
sempre de dia, sempre à tarde
sempre sem rumo, sempre sem arte.

Torto,
sem ruído,
sem ser notado,
sem ser vivido,
sem ser visto,
sem sentido.

06/01/06