22 janeiro 2007

Minhas palavras...seus sentimentos


Não tente me encontrar em minhas palavras
busque você
Não tente me descobrir em minhas metáforas
ouça o que vibra em você
Não tente entender minha poesia
Essa é a minha droga, a minha utopia
Essa é a minha toca, a minha abadia
a minha morte, a minha alegria
Esse é o meu delírio

Não me reduza a uma sopa de letras
não me traduza
Não me seduza
Não me encomende desculpas
Não me comente
Não se contente

Não critique meus pontos
entenda que são apenas contos
Não simplifique os entornos
olhe pra dentro
Não classifique os pronomes
Não troque os nomes
Não adjudique os sentidos
Não esclareça os perigos

Quando me ler, ouça você
Se não fizer sentido
aceite minhas desculpas pelo tempo perdido
Minha poesia transcende a mim
Minha loucura espalha o carmim
Minha caneta tem vida própria
Meu silêncio entorna, derrama, exclama

Meu desespero não é meu
é apenas a reverberação da tua alma

Meus textos não deviam ser levados a sério
saem porque latejam
escorrem rápido
sem tempo de censura
sem lógica e sem mesura
sem ética, sem tortura
como um desejo
quase um lampejo
um alívio
um gozo
Saem porque tem que ser
caem porque são pesados pra ficar no ar
tocam quem têm que tocar
Sou apenas um meio
tenho apenas um veio
Aqui não amo, nem odeio

Não me confunda com o que lê
Apenas leia
Não interprete, sinta
Não me pergunte, intua
nao me responda

Faço porque gosto
pelo simples prazer de acabar
pelo simples voar
pelo simples voltar
pelas distâncias que percorro pra chorar
pelas nuanças das frases, das crases
pela alegria, pela covardia
pela parceria

"O Poeta é um fingidor"
o leitor é um caçador
o poeta mente
o leitor sente
o poeta seduz
o leitor consente
o poeta exagera, aumenta
o leitor pondera, acrescenta
o poeta é falso, se corrompe
o leitor é livre
o leitor é um voyeur
vibra, ama, chora, cora
grita, despreza, toca, sufoca
...lê
...caminha
...em uma única direção
...a de si mesmo

20 janeiro 2007

Podia...mas nao fui

Entre o que eu podia e o que eu não fui
mais uma vez parado na ponte
mais uma vez com o mundo nas costas
mais uma vez com a angústia me corroendo e me corrompendo
eu posso parar o trem a qualquer minuto
eu posso mudar a vida a qualquer hora
mas assisto a crônica da morte anunciada
assisto sonhos partindo sem conseguir olhar nos olhos da vida
assisto o tudo que poderia....porque eu não fiz ser

Só há uma forma de viver. Vivendo.
Tudo o mais é morte.
E eu morro a cada dia.
Carregando potencialidades comigo.
Contemplando possibilidades.
Me preparando pra uma guerra que nunca vai existir.
A vida passa...eu fico.
Hoje...mais uma vez faltou coragem.
Faltou certeza.
Uma certeza que nem existe, nem nunca existira.
Hoje faltou renúncia.
Hoje faltou ação.
Hoje faltou verdade.
Hoje sobrou saudade.
Hoje meus olhos quase me trairam.
Minhas lágrimas quiseram vazar.
Minhas páginas quiseram mostrar.
Mas eu teimo em deixar tudo voar.
Em deixar tudo acabar.
Em deixar tudo continuar...à margem de mim.

Tenho medo de estar morrendo
Tenho medo de estar me despedindo de tudo.
Tenho medo de estar me desculpando pro mundo.
Será que só eu penso que poderei errar
Será que só eu sinto viver personagens que não são minhas.
Será que só eu lamento pelo que possa dar errado antes mesmo de começar.
Volto a pedir que a inconseqüência guie os meus atos.
Que a lama toda me alcaçe os sapatos.
Que a vida aconteça.
Que o dia amanheça.

Eu sou o vigia do mundo.
Responsável por tudo e todos ao meu redor.
Eu não erro.
Eu não ferro.
Eu sou bom.
Eu sou limpinho.
Eu sou meigo.
Eu sou doce.
Eu sou culto.
Eu sou certo.
Eu sou concreto,
educado,
discreto,
calejado,
direto,
um soldado.

Eu sou tudo o que se pode querer que alguem seja.
Mas minha vida está passando....e tudo está errado.
Tudo está manchado.
Tudo está dobrado....pois nada é usado.
Que a inconseqüência guie os meus atos.
Que a incoerência crie os meus fatos
Que a maledicência venha
Que o conflito venha também.
Que a disputa venha...com seus louros e seus espinhos
pra que eu possa sentir o sabor de ambos.
Mas que eu viva uma vida normal
Que eu crie uma história mortal.
Que tenha risos, que tenha dores.
Que tenha chuvas, que tenha flores.
Que tenha curvas, que tenha amores.
Que tenha tato, que tenha cores
Que tenha olfato, que tenha odores
Que seja normal.

Chega de confusão
Chega de excessos
Chega de abundância
Chega de retrocessos

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo"

18 janeiro 2007

Desperto


Voa meu passáro,
busca a vida sem medos e sem preconceitos
Tua gaiola ficou aberta por que esse era o teu desejo
tua lanterna ficou acesa porque buscavas caminhos
Leva contigo todas as possibilidades do nosso amanhã
Deixa comigo todos os fragmentos do nosso verão
Deixa a saudade....deixa a latência
Usa a verdade e não esquece da aparência
Pois essa é tão ou mais importante que a outra
pois é a moeda do mundo
é o passaporte pro inferno

Soltei todos os meus pássaros
A vida cativa matava algo dentro de mim
A escravidão do meu olhar me nauseava e me amargava
O acoite do meu toque me surpreendia no meu próprio sentido de mim
Quis todos os meus pássaros voando livres
Fiz todos meus diálogos pra viver leve, dormir tranquilo
Pra poder não acreditar em mais nada nem ninguem
Pra poder não esperar mais nada de ninguém
Pra poder não roubar suspiros
pra poder não chamar vampiros
pra poder cravar com tiros as vítimas da minha soleira

Soltei teus laços
Abri meus braços
Cantei as nossas músicas pra me esquecer
guardei as minhas suplicas pra te poupar
Tentei limpar as memórias também
Tentei lembrar de te ver com alguém
Calei sozinho, pensei no espinho, sem ter ninguém
Tudo isso pra ficar só
Tudo isso pra voltar pra casa
Tudo isso pra fechar as feridas e abrir as asas

Que raio de egoísmo é esse que abre mão do doce
que raio de fascismo é esse que sempre me envolve
que ponto de partida é esse ao qual sempre retorno
que saco de pancada é esse que eu sempre me torno
que medo de tristeza é esse que sempre me espreita
que tipo de ternura é essa que sempre me corta
que tipo de amargura é essa que sempre me volta
que tão sutil teu jeito que às vezes me falta
que tão gentil teu peito que sempre me acalma
que tão febril teu leite
que tão pueril teu flerte

Se eu nao tivesse medo de viver
faria cinco encarnações nessa existência
Se eu nao tivesse medo de ferir
daria vida então à toda a minha incoerência
Se eu nao tivesse um jeito de implodir
viveria toda a poesia que jamais escreverei
Se eu fosse mais livre de mim
Se eu fosse mais dono de mim
enfim

Hoje as pessoas estão todas com a garantia vencida
Meu primeiro tiro falhou
Talvez fosse o único
...e eu acreditando ainda ter balas na agulha
Hoje eu não consigo mais acreditar em ninguém
não tenho mais tempo pra me entregar
nao tenho mais forças pra me resgatar
Assisto de longe...resisto

Pra onde olho vejo mendigos
mendigos de dignidade
mendigos de atenção
mendigos de afinidade
mendigos de coração
mendigos da sociedade
mendigos da situação
Não tenho pares pra continuar
Não tenho ares pra me guiar
não tenho bares pra me embriagar
não tenho um copo amigo
nao tenho um abrigo...um lar

Minhas palavras ficaram sem eco
Minhas lembranças sem teto
Meus anseios ficaram no asfalto
meus receios me assaltam
minha esperança ficou sem atores
minha criança sem fronte
minha certeza sem fonte
minha prudência sem norte
minha doçura sem pote
dispersa
sem sorte
imersa
sem volta
morta