11 dezembro 2005

Ocaso


Cai a noite, cai a semana, cai a vida
Caio eu
Quero a referência que traga novo chão aos meus pés
Quero a deferência que traga nova direção aos meus passos
Quero a indiferença que traga novas mãos aos meus braços
Quero a inocência que permita aos meus dias nascerem puros de novo

Onde ficaram meus planos ?
Onde queimaram meus mapas ?
Onde secaram meu sono ?
Onde atearam meu fogo ?
Onde...onde ?

Onde deixaram meu siso ?
Onde roubaram meu riso ?
Onde acertaram meu tiro ?
Onde me deram retiro ?
Onde me enterram ainda vivo ?
Onde ?...Onde ?

Onde me fazem de tolo ?
Onde me ferem com dolo ?
Onde me mostram consolo ?
Onde me seguem, onde me pedem ?
Onde me impedem, onde me impelem ?
Onde ?...Onde ?

Meus abismos se fecham sobre mim
meus caminhos estão todos sem fim
meus meninos morreram em mim
meus meninos pereceram no veneno de mim

Meu desejo me alimentou
meu desejo me sustentou
meu desejo me viciou
meu desejo me lacerou
meu desejo me matou, e se matou também

Agora preciso morrer
agora preciso deixar-me ir
agora preciso da dor
agora preciso da cor
agora mais do que nunca.
Agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso de coragem
agora preciso

A rebeldia fez de mim alguém diferente
a persistência pôs a minha estrada à frente
a leniência me fez um alvo inocente
e a paciência me sufocou lentamente

Assim caí
assim fiquei
assim aprendi que a morte é necessária
assim aprendi que a sorte é temporária
assim aprendi que a vida é solitária
assim aprendi que a história é traiçoeira
assim aprendi a cair
assim aprendi a sangrar
assim aprendi a chorar

e o gosto de sal na minha boca
me trouxe as certeza de que eu retornaria
como o sol que comigo descia
como o mar que comigo dormia
como o par... que comigo paria.

11/12/2005

Brios


Recua para dar um grande salto! Ultrapassa a muralha que isola o teu reino mental, expulsa a desgraça da torre e contempla o sol de uma verdade sangrenta: quem é profundo carrega um abismo sob os pés!

Se ¨a vaidade é a pele da alma¨, o orgulho ferido é uma monstruosa cicatriz... Tatua seus íntimos encantos sobre a deformidade dessa derme! Devolve as chagas para quem quer sofrer na cruz!

Ser mártir não é tarefa para medíocres... Seja medíocre! Antes o abrigo coletivo que uma cama ao relento, melhor o conforto do rebanho que o dilaceramento da carne à sangue-frio!

Conecta o distante, desenterra o futuro e recompõe o caos. A eternidade do tempo é prerrogativa futura de tudo que é mortal.

Despe a couraça que reveste os teus brios!
Sonhos vastos jamais passarão pela abertura de três milímetros da tua íris... Filtra teus pesadelos!
O efeito é o delírio.
10/11/2005

Instintos



Vivo entre minha raiva e minha biologia
Fico mais longe a cada passo que dou
Sei que devia ter parado, minha alma pede descanso há tempos
A culpa incorpora as minhas ressacas
O medo se alimenta de minhas esperanças
O silêncio, um antigo amigo, agora me assombra
Sinto o exato limite onde deixo de ser
Sou o retrato de um crime, onde eu devo morrer

Minhas verdades ficaram no tempo em que eu era alguém
um tempo em que um espelho era suportável
um tempo em que eu sentia ser parte de algo
um tempo em que eu não via meu fim como algo necessário
(talvez necessário pra muitos)

Minhas certezas foram todas embora
Minhas riquezas foram todas deixadas
Meus amigos foram todos seguir suas vidas
e eu descobri não ter uma
Meus parentes ficam se perguntando onde estou
Meus pedaços se repelem em asco
Minhas lembranças se tornaram estranhas para o que me tornei
Minhas heranças são um fardo pra quem possa chorar ao ler meu epitáfio

Meu conflito açoitou inocentes
meu grito calou
Meus atos fizeram de minha imagem
a sombra de uma vergonha para os meus
Minha saliva secou as bocas que me deram morada
Minha saudade selou a forca que me impingi
Meu sêmen jorrou

Quero sair pelo mundo
andar sem destino
chorar sem alívio
Quero a purificação
quero o descanso
quero o fim desses dias
uma vida já foi suficiente pra mim
uma partida já foi clara pra um sim
um lamento
um sorriso
um caminho
um adeus

08/11/2005

A escolha


Mais um dia surgindo pela frente
luz, barulho, agitação
Minha cabeça começa a girar
a vida encosta em mim e começa a me empurrar
Como uma parede que se move e nos leva adiante
independente do que possamos querer
Sempre em frente, não há como parar
onde estou?
pra onde vou?
como vim parar aqui?
quando comecei?
quando me perdi?

Tornei-me personagem de uma história que não é minha
estou fechado pra o que quer que a vida me ofereça
como um rádio que perdeu sua frequência
como um sonho que perdeu sua sequência.

28/10/2005

O Intervalo, a ponte e o nada


Entre as margens,
entre as vidas, há pontes
entre o ser e o viver...

Entre os ponteiros do relógio não há pontes.
Entre o perder e o realizar,
o viver e o existir.
Entre o acordar e o despertar,
o querer e o desejar.
Entre o pensar e o agir,
o sonhar e o existir.
Entre o ódio e a ação,
entre a dor e a paixão, há pontes.

Entre as margens.
Entre as margens há hesitação,
há corrupção.
Entre as margens há veneno.

Entre as marges há delírio,
há martírio.
Entre as margens há desencontro.

Entre as margens há urgência,
pra que a insanidade não consuma o ser
pra que a humanidade não corrompa o ter
pra que a ansiedade não corroa
pra que a falta de claridade não cegue
pra que a vida não cesse.

Que as pontes caiam
seguindo os passos da travessia.
Que as noites caiam também.
Que as pontes tenham prazo
pra que a vida se mova, ainda que aleatoriamente
e então possamos acreditar que o destino é feito a cada passo
a cada sorriso e a cada grito,
a cada toque... a cada atrito.
E que possamos descobrir que cada ponte foi um momento de morte
e que a nossa loucura nasceu e cresceu nesses intervalos
e que o controle saiu das nossas mãos
pois as decisões eram menos importantes
uma vez que a busca era interna...
...e que o destino estava dentro de nós.
Quero coragem pra ancorar meus pesadelos

07/10/2005

Divagações: Felicidade

Alegria modesta, felicidade possível.
2005

Passagens

Cruzo uma porta
piso no novo
Apesar de tudo
o passado ficou muito justo pra mim
Espero uma banda completa passar
com milhares de soldados marchando pelas avenidas de minha insanidade
como um ziper que aos poucos fecha o tentador e ilusório mundo do "se"
O inverno em minha vida aqueceu

Fecho uma era
Fecho uma cratera cheia de amargura, ressentimentos e expectativas vazias
como noivas deixadas num altar,
como vidas amareladas,
como velas não acendidas,
como promessas nunca cumpridas
como promessas que se tornaram dívidas
Fecho essa conta pela qual sempre sangrei

Deixo uma âncora no mar
Deixo um peso no ar
Deixo uma nau sem rumo vagar
Deixo a chantagem
Deixo a loucura
Deixo a empafia
Deixo o menino de quem não sou pai...nem mãe

Hoje é dia de luto
Hoje tudo é branco
Hoje eu volto ao trabalho de parto
e felizmente busco ressucitar pois já estou farto de renascer
Hoje eu me volto para o dia
pois a missão de resgate foi abortada na noite passada

Por onde andei por tanto tempo?

20/10/2005

Vibrações

Era a mesma música
a mesma música insistindo em se fazer ouvir
e nossos corpos ficavam livres de nós
livres de nossas mãos
livres de nossos encontros
e eu corria pra ver o sol nascer de novo
mas sabia que você era igual a mim
e também continuava me perguntando o por que de tudo aquilo

Era a mesma intuição
a mesma sensação de estar escrevendo com você ao meu lado
esperando um sinal,
fazendo promessas e esperando que o sinal abrisse a chance de mudar tudo
como quando criança, esperando que um carro azul passasse
que a luz piscasse, que o telefone tocasse
mas sabia que você sentia o mesmo que eu
e também continuava se perguntando o por que de tudo aquilo

Era a mesma paixão
a mesma fogueira consumindo cada migalha da minha consciência
e eu buscando lutar
lutar contra tudo e todos só pra entender que no fim...
só pra entender que no fim minha emoção era eu
e minha razão todas as fantasias que eu criei
todas as nostalgias que eu sangrei, todas as alegrias que eu nem sei,
nem usei, nem vivi, nem fechei nem abri

Mas acordei com a sensação de ter um grande lago à frente da minha janela
com patos barulhentos acordando a lua
com toda a minha infância a encostar na tua
com toda a semelhança que aprendi ser sua
e eu deixei parte de mim
só pra poder voltar mais uma vez
só pra poder pensar em não ter mais talvez
só pra poder me achar e te perder de vez?

Era a mesma noite
eu continuava escrevendo mas agora só
certo de que aquelas vibrações encerravam seus sinos
de igrejas distantes a te chamar
de aldeias estranhas, do além mar
de caminhos abertos sem mais chorar
de olhos cobertos pra não me olhar

Era a mesma pessoa
mas agora livre pra caminhar
mas agora solta pra recomeçar
mas agora envolta, agora absorta
agora inteira pra prosseguir
agora atenta pra não mais cair

Era o mesmo chão
era a mesma casa
era o mesmo país
eram as mesmas promessas
eram os mesmos olhares
era o mesmo perfume
era o mesmo desejo
era o mesmo dia
era tudo igual
Só eu não estava mais lá...

Corre pra vida, corre logo.

10/09/2005

Dias de sol


Dias de sol
Onde está o sol?
Fora de mim
Sempre fora de mim
As cores?
Fora de mim
As dores não

Eu tive mais vida
Onde esteve a vida?
Fora de mim
Sempre fora de mim
A alegria?
fora de mim
O medo não

Eu sou o reflexo do que ocorre fora de mim
Eu sou o que empresto do que existe fora de mim
Eu sou a memória de uma vida que não teve fim
Eu sou um apêndice que completa vidas fora de mim
Eu sou um capricho que decora sonhos fora de mim
Eu vivo a história de uma fuga
eu vivo o medo, eu sou a ruga

Sou o melhor companheiro pra dor
Sou quem entende o perdedor
e sou quem dá chão ao que não tentou
Eu sou o tudo que não vingou
Eu sou a morte
Eu sigo sem norte
Sou quem não paga
Sou quem se apaga
Sou quem sufoca
Sou quem se afoga
Sou quem engana e se engana
sou aquele de quem desistem
sou aquele por quem insistem
eu sou aquele

Agora chego à metade da vida
e continuo a cantar:
"tantos projetos em vão,
eu continuo sozinho e sem direção
Tantas razões pra sonhar
e eu continuo acordado esperando passar
toda essa confusão"

Se existisse algo maior
eu só pediria pra ser,
ser e deixar de estar...
estar pensando
estar medindo
estar planejando
estar no limiar do ser
estar esperando um dia sereno pra morrer

Eu queria apenas viver

Que a inconsequência guie os meus passos
e seja a faísca pra que o juízo chegue sempre atrasado à minha porta
Que a culpa saia do meu dicionário chutada pela porta dos fundos
e que a boa índole me guie pro lado direito dos dias sem sol
Que a minha condição me acorde cedo,
e que a minha fala seja mais rápida que o meu pensamento
Que a minha memória se apague, que a minha mente se cale
e que os meus medos apodreçam guardados no esquecimento
Que eu erre tantas vezes quantas me seja possível tentar
mas que eu passe a vida buscando...
e que essa busca seja desesperadamente intensa
pra que não sobre tempo pra o pensar

Que o meu pescoço enrijeça
que me tapem os olhos, como os de uma mula que só carrega os restos
mas que eu não possa olhar pra trás
que eu não possa lamentar pelo que podia ter sido, porque não fui
que eu não possa questionar meus caminhos
que eu não possa relembrar dos acertos
pra que cada recomeço seja único, sem vícios e sem dívidas
que eu viva leve, mas que eu viva inteiro
que eu viva pobre, mas que eu viva em paz
que eu viva só, mas que eu viva completo
que eu viva um dia...
...apenas um dia,
mas que esse dia anoiteça claro.

02/10/2005

Tempestades


Os dias vão
e dessas tempestades restam muitos mais...
...muitos enganos mais
tantas gerações desperdiçadas em promessas
que vão muito além de nós

Os sonhos também vão, mas certas semelhanças não nos deixam crer...
crer que ainda somos nós,
atos e palavras vão surgindo pelas frestas
e as almas já não são as mesmas
nem os traços, nem os laços
nem os passos vão pro mesmo lugar
e assim como os rios, os destinos se entornam
e já não sabemos mais quem, ou por que somos...
nem mesmo pra onde vamos.

As águas se encontram
e no teu sal minha essência se perde
e no teu leito minha fluência se inverte
nos dias calmos, correndo tranquila pelas margens
nas tempestades, chovendo.

24/09/2005

A rosa do espinho



Agora tudo parece mais calmo
Vejo beleza no meu viver
Vejo a certeza no meu ser
por ora tudo merece um aceno

Agora nada do que eu sou me soa obceno
temos tempo pra conversar
temos tempo pra trocar
por fora a fé nos dilui o veneno

Agora o tecido entre nós se refaz
temos força pra prosseguir
temos pontes pra construir
temos carma pra nos unir
temos elos, erguemos castelos

Agora a rosa aparece enfim
tem espinhos pra machucar
tem feridas pra cicatrizar
mas tem encanto pra oferecer

Entre o que somos e o que fomos sempre restou a liberdade
a liberdade de escolha
Entre o que damos e o que tomamos sempre existiu a intenção
o único motivo que importa
Entre o que vive e o que morre, "entre o ser e o nada", sempre pairei perplexo
EU QUERO VIVER!!!!!!!!!!!

22/09/2005

Num beco


No dia em que a paz chegar
minha caneta repousará
Estarei morto pra essa estrada em branco
e começarei a viver a vida
Anestesiado por me sentir completo
Amainado por me livrar do incerto

Enquanto essa viga me corta as visceras
continuarei sangrando essa estrada em azul
sangro o teu cio em mim e me sinto nu
sangro o que vaza em meu leito e me faz rarefeito
sangro o que não tenho mais...pois perdi o respeito
Grito!!!!
Grito!!!
Grito!!! Por meus defeitos
E sou o que se pode esperar de mais humano e patético
de mais mundano e apoplectico
de mais profano e morfético
"um lixo, um rato, um covarde"(W) .

22/09/2005

Girassois


Gira o sol...tudo gira
minhas mãos já sangram e se desfazem nessa vã tentativa de me manter ereto
é questão de tempo pra que esse touro me arremesse ao chão
é questão de tempo pra que eu diga não
é questão de tempo.
Minhas costas doem
minha consciência também
Não passo ileso pelos terrores da noite
nem pelas setas que de dia me castram
não tenho redenção, não tenho salvação
e os dias longos me fartam de angústia e medo

O sono encurta
os olhos sofrem de novo
a vida chama
e falta sinceridade entre nós
falta coragem
falta medicação
falta coerência
falta dedicação
falta insistência
falta paixão
sobra abstinência.

Faltam borboletas no meu jardim
falta indiferença no meu coração
falta o meu perdão
falta sossego
falta uma mão
falta o sorriso
falta firmeza
e o touro pula e gira
e o touro me guia
já é tarde pra mim

Cairei como caem sementes
Levantarei com dificuldade, mas mais uma vez
Amargarei mais uma derrota confiante de que não será a última
E serei menos explicito...
E renascerei

20/09/2005

Ciclos


Viva,
Viva por tudo o que aconteceu
viva por tudo o que nunca viveu
vivas e brindes
mas viva com coragem
viva a dor de cada passagem
viva o limíte de cada estiagem
viva o sentido do seu atrito com a vida e viva
cicatrize, rasgue a embalagem
sinta o ardor do viver
viva o pesar do sofrer
viva,
pois como o Oscar já dizia a maioria apenas existe

Mata o meu medo de viver
castra o meu modo de dizer (o que não é)
Corta o meu vício de iludir
Dá-me a abstinência do fugir
Lembra-me que antes da volta é preciso um ir,
ir e viver,
gozar e sofrer,
viva,
viva,
viva.

03/08/2005

O excesso de não ser



Sem palavras pra me desculpar
Sem palavras pra me entender
Sem palavras pra me calar
Sem palavras pra poder morrer

Sem palavras pra pedir que a vida me traga a paz
Sem palavras pra impedir que tua falta me faça capaz
Sem palavras pra medir a angústia que me destroça
Sem palavras pra mentir a mentira que me redime

Sem palavras pra te pegar pela mão e mostrar que eu ainda existo
Sem palavras pra me encontrar e me situar
Sem palavras pra rezar e pedir ajuda
Sem palavras pra parar o tempo e mudar essa história

Sem palavras pra cada momento em que você me tocou
Sem palavras pra lutar contra as chamas que o instinto soprou
Sem palavras pra ajudar a quem tanto me suportou...e tanto me amou...e tanto me ocupou...e tanto queimou dentro de mim
Sem palavras pra urrar a latência da minha dor
Sem palavras pra drenar a carência do teu calor
Sem palavras pra inventar uma forma de te invadir
Sem poesia pra acordar de novo ao teu lado e só existir

Sem coragem pra lutar
Sem coragem pra sonhar
Sem vontade de sobreviver

Hoje eu morro pra tudo o que eu um dia acreditei ser
Hoje eu corro pra um fundo de poço em que eu jurei nunca cair
Hoje eu quero que tudo se acabe sem que haja ao menos um lugar pra eu me encostar
Hoje eu espero que essa lágrima chegue ao seu destino pra que eu descanse em paz
bem no 'meio' do quarto onde o teu sentido puder te alcançar

Hoje eu sofro por tudo o que de estranho foi colocado em mim
Hoje eu choro por todo o podre que aconteceu por mim
Hoje eu lamento por um dia ter cruzado esse mundo sem fim
Hoje eu escarro todo o respeito que me foi ensinado
e pra quem tem pena eu digo
a realidade é a mesma pra todos
o que muda é a quantidade de sono em cada alma perdida nesse chiqueiro em que vivemos

Se há lamento, há a memória da lascivia
se há tormento, há uma história ainda viva
se há excremento, há moral e há quem diga amém
pois de outro modo seríamos menos fechados
seríamos menos castrados
seríamos menos pervertidos, menos afetados
seríamos mais amenos, e conscientes da falta de razão
da falta de motivos pra estar sós nesse momento
da falta de controle do nosso pensamento
da falta de coerência do nosso sentimento
da falta de ausência no nosso afastamento
da falta de ilusão no nosso dia-a-dia
da carga de esgotamento
da falta de ação, do excesso de movimento
da falta de prazer, e
do excesso de não ser.

talvez por já ter partido
ou pior...por nunca ter existido
talvez até por ter sido esquecido
por quem temeu nunca ter sido.

01/08/2005

Pra todos os meus medos


Pra morrer, voltar seria o passo
Pra te amar, morrer seria o preço
Pra cortar, amar seria o fio
Pra sangrar, te ver seria o suficiente
E o toque do teu corpo o mote
pra que e a loucura me tornasse ausente
pra que a candura me expusesse à lente
do teu juízo frio, do teu amor vazio
to teu desejo promiscuo e insistente
da tua vingança emprestada
da tua ganância emulada
da tua existência amenizada por um papel trocado
por um clamor rogado num canto imaturo do teu ser

Queria ser a luz pra que a sombra do que fomos te mostrasse o espectro da minha solidão
queria ser teus olhos, pra saber pra onde olhava quando nunca me via
queria ser teus ouvidos, pra entender que música dançava quando eu me p erdia
queria ser menos humano, queria ser menos humano.

31/07/2005

Cicatrizes


Ainda que fosse um hábito,
que um desejo atávico forjasse aquele impulso
à margem dos jardins sagrados, na soleira da eternidade
no silêncio do caos, cairíamos um após o outro
lembrando de um salmo que minha paz sussurrava
lembrando da morte...
não como o fim de um ciclo
mas como todos os momentos
em que a hesitação reteve o verbo
em que o medo conteve o toque
em que as culpas nos tornaram escravos dos desejos
e capachos dos caprichos alheios...
E assim nos diminuíram
enquanto o taximetro rodou
estalando rápido como a vida passa,
apesar da total paralisia,
da mudez letargica e da covardia
que nos acometiam sem nenhum constrangimento
e sem que conseguissemos acordar
daquele sono profundo, daquela apatia estéril
daquela carnificina cruel patrocinada por nossa dignidade imunda e hipócrita
pendurada nos pedestais da ética e da religião de uma sociedade falida
apodrecida e contaminada por seus próprios princípios e pela ausência de vontade,
pela ausência de sonhos, pela ausência de vida.
Promessas ficaram na base do que acreditamos ter sido um dia
Dividas restaram do que nos guiaram pra tentar um dia alcançar
Ódio nos consumiu a cada novo faixo de luz que nos desvendou
escancarando a certeza de que vivemos na mais fria e fétida
escuridão...
30/07/2005

Síndrome

Não é mais o corpo vivo, mas não é ainda o cadáver. Estacionado na passagem, experimenta diariamente uma pequena morte noturna. Entre a vigília e o sono, surtos de passadismo nostálgico, ecos de sensações vividas e reflexões existenciais, amálgama perfeito entre o ser e o nada. A biografia apodrece na estante seletiva da memória coletiva da plebe, os versos censurados encontram refúgios blindados nos arquivos mentais e o esquecimento se abre pleno de possíveis. Absorve um oceano de perdas, mas não deixa naufragar a célula que te deu origem.

29/07/2005

A Morte


A morte me segue
a morte me pede
a sêde de morte
na sede da sorte
no negro consorte
no frio do corte
no cio que sangra
o que em mim já foi forte
o que em mim já foi ponte
o que em mim já foi fonte
e secou sem aviso
e levou meu juízo
e queimou o meu fogo
e apagou meu desejo
e apartou meus amigos
e abalou meus princípios
e abafou meus instintos
e acalmou meus impulsos
e jorrou seu veneno
e calou minha vida
e me expôs a ferida
e me ardeu sem remorso
e cedeu sem limíte
e se deu sem saudade
e saltou sem ter rede
e fodeu sem piedade
e bebeu sem ter sede
e berrou com vontade
liberdade enfim!!!!!
Morri

28/07/2005

Colônia


Acorda, cidade maldita, aborto encravado no ventre da mãe gentil! Desperta do nirvana artificial, escapa do sono servil! Traficantes cospem fogo e políticos vomitam lodo sobre vós! Tóxico aroma: algozes encapuzados, cadáveres carbonizados, línguas negras, valas indigentes, redentor crucificado, mosca alegre da putrefação sobre o monte açucarado. Geografia aterrorizante – terra estrumada, reduto da podridão. Lei e infração ao mesmo tempo conforme, espiral de violência e repressão. Proliferação de ratazanas pela falta de veneno adequado: fim da feira moral.

2005

O franco-atirador


Sou parte de uma geração arrastada
pras covas rasas que são cavadas
por todos nós, todos os dias,
onde todos os sonhos são enterrados
sem qualquer vestígios de ideologia,
pra depois serem habitados
pelos maus espíritos da covardia
gravada nos epitáfios
com o sangue-frio das demagogias.

Quero acreditar que não ficarei cego
antes pode ver se apagar
a luz no fim do túnel
que não pude atravessar.

Quero acreditar que não ficarei velho
pra ter que me obrigar a derrubar
todos os muros que não pude transpassar.

Até tentei me definir,
mas não me deram um dicionário...

Se eu for mais um mártir
de uma quimera que agoniza em pleno estado imaginário,
que eu não seja mais um mito
pros que sufocam toda a dor no precário espaço de um grito!
1988

Feridas abertas



Não sofrem de remorso nossos pais,
nem a sociedade que os criou;
há revolta em nós,
o sistema nos ensinou
a fazer o que eles querem
e o que eles queriam fazer,
talvez por nao terem feito,
talvez por tencionarem continuidade
ou tão só para nos fazer sofrer.

Porém, um dia eles se vão
e em nossas almas tentarão se erguer,
mas nos seus túmulos jogaremos pedras,
pedras nos sonhos
que em nossas mentes quiseram viver
e mesmo sem querer
nos feriram tão profundamente
que provavelmente marcarão nossos filhos por nós.

1986

Desencanto radical



Deus está morto e eu me sinto bem.

Sou livre, mas não digo amém.

Tudo é tão confuso...

Eu me sinto um intruso
nos sonhos e seus campos magnéticos,
na realidade e seus becos tétricos,
no mundo e seu potencial bélico,
perseguindo rotas de fuga em velocidade
com a bússula apontada para a insanidade.

Vivos e mortos: estou distante de todos!

Melhor estar à parte do que ser parte!

Entre os homens sou menos humano,
sobre-humano
desumano,
inumano,
animal,
bípede irracional.

O espelho está partido, mas já me vi não sei aonde.

Solitário na multidão,
procuro quem me encontre

em algum lugar, ao longe.

1990/2005

Nós


Sinto vontade, às vezes,
de deixar tudo pra trás.
Sinto saudades do tempo
em que haviam vestígios de luz.
Luz que buscavas na madrugada
sempre que a(r)riscavas com sua espada,
sangrando a seda em azul

Seu vapor cinzento
arborizava uma farsa oculta entre nós.
Nós que me atavam aos céus,
nós, que cercados num mauzoléu,
agora vão desatando,
desbotando no tempo
que passa em segredo...
1988

11 outubro 2005

O Estado é você


Vou andando sem direção
certo que a caminho
de uma revolução cultural,
um choque a mais para nós
nessa soberania estatal.

Se ao menos por uma vez
você se desligasse para me escutar,
se ao menos tentasse pensar,
talvez encontraria alguém para te censurar.

Há pessoas tentando mudar,
tentando mudar seu jeito de ser,
há pessoas tentando encontrar
um meio de fazer você parar
com discussões sem sentido,
agressões servindo de abrigo
para uma insegurança qualquer
dentro só, só de você.

Se ao menos por uma vez
você deixasse eu decir meu modo de agir,
se ao menos tentasse crescer,
talvez encontraria algo em comum para omitir.

1990

Escolas


Tantas são as escolas, tanto a aprender
e a nossa ilusão de um dia tudo saber.

Quantas são as discórdias, quão grande é o prazer
de estar nesse jogo e nada poder fazer.

Sempre seguir...
Homens cansados, sonhos por realizar
que em nossas imagens se encontram
e sentem poder prosseguir,
mas são condenados por um tempo que passou
e sabem que um dia vão ter de partir.

Dessas lembranças um sonho é o que vai surgir.

Distâncias


Marco as distâncias,
sinto no ar repulsão;
tantas lembranças
me dão forças pra recomeçar.

Eu nao vou mais lutar,
sei que o seu brilho não está mais no ar;
quer te ver sumir,
eu tenho forças pra te consumir.

São crentes por tradição,
são indigentes por destinação,
se perdem, se esquecem
buscando o poder
e se materializam por ser
uma imagem de alguém que se foi
pra nunca mais voltar.

Marco as distâncias,
nao vejo mais razões pra culpar
nossas crianças
pela fraqueza de nossos pais.

São crentes por tradição,
são indigentes, são nossos irmãos,
se perdem, se esquecem, tentando entender
e se marginalizam por ser
uma imagem de alguém que se foi
pra nunca mais voltar.

1990

Notícias Urgentes


Focos de radiação por todo o país;
Povos marcados,
heróis exilados,
revoltas civis;
Vão descobrir que podem crescer
sem leis pra seguir,
vão se iludir com reis
que não tardarão a surgir.

Chegam notícias urgentes pra nos preparar,
clamam por nós, penitentes do erro
que vai, vai nos assolar
vão se lembrar
que não há motivos pra preocupações,
vão respaldar as perdas
em más construções.

Sentimentos dilacerados
por jovens fardados,
cheios de precauções,
e os versos sagrados
com tantas contradições;
pensamentos encarcerados nas faces;
nos olhos, aos gritos, as reações.

Falsas lembranças em nossas tantas recordações!
Feito crianças perdidas
num mundo de imagens e simulações,
sem perceber (por quanto?),
tantos passarão sem nada sofrer
sem merecer o que vão receber de nós.

Certos de si, nos induzem decretos;
discretos, procuram saber onde estão;
Cegos, sentimos estar naufragando
e eles juram, juram proteção;
pra nos punir,desandam vazios
a se completar,
sem decidir
a hora de parar.

1988

Grades


No interior de uma vitrine mórbida,
a mente perde a lógica
no contato com o concreto
e mente contando dias
que nao passam de séculos.

Definindo sobrevivência
como a arte de resistir,
são todos artistas
brigando pela posse egoísta
de um pedaço torto de giz,
para calcular a densidade do aço
e a sensualidade dos traços
do corpo da mulher que não está ali,
revolucionários da estética,
tranformando ferida em cicatriz,
encarando a rotina bélica
de escapar da morte por um triz,
sonhando com a forma geométrica
que o sol assumirá
quando voltar a brilhar
em algum lugar do país.

1989

Sobre a condição humana


Na ponte amena
do coração travesso,
dá-se o tropeço da densa poesia
na fronteira fria
do amor pretenso.

Sem pulso forte,
o impulso sofre,
sem êxito, hesita
e abandonado, sente
nos olhos o calor
de uma lágrima ausente.

E o próximo passo,
se faz inseguro:
há um retalho rasgado
sobre um talho profundo,
um grito estendido
ao dia-a-dia noturno,
um gesto suicida
no sonho frustrado,
uma falta preferida
ao suplente marcado,
uma dívida crescente
no presente a ser pago,
um instante definido
por momento mágico
e o início difícil
de um desfecho trágico.

E o último fracasso
que o destino traça,
não tem entrada,
não tem saída,
é a linha de chegada
e o ponto de partida.
1990

AI-5


Sempre voltam eles
com notícias de novas execuções;
sangue novo escorre,
tanta gente some
em meio a essas rebeliões!

Novas caras no poder,
atos institucionais que nos fazem crer
num futuro incerto e atroz,
num passado apagado
de nossas novas gerações
(manchas ocultas em nossas mortalhas).

Vão para fora buscando o poder,
voltam com escolas de guerra para nos abater
e não contentes com a situação,
fazem da tortura a mais nova instituição,
dando início ao que vão chamar de nação.

1988

11 setembro 2005

Traficantes de ilusão



Não há antídoto contra o abandono:
monóxido de carbono,
tóxicos que dão sono,
papel carbono demais...
e todas as noites são iguais.

Uma tentação afrodisíaca,
uma obsessão hipocondríaca:
revelar nas fotografias
um fato marcante em nossas biografias.

Pelos sonhos,
a realidade deve pagar;
sermos realistas,
não nos impede de sonhar
e arrastar frustrações,
descartar intromissões,
desacatar imposições,
acatar sensações,
catar restos doidos de paixão
com gestos doídos de compaixão
para com a última namorada,
destilar qualquer emoção
e traficar ilusão na madrugada,
essa dama drogada de solidão.

1991

O Líder


Sob a solidão da madrugada
que se dissolve no desprezo
da energia elétrica dissipada
no cansaço da cidade acordada.
todos os olhares estão pousados
nas inúmeras manchetes dos jornais,
com o peso da descrença generalizada
nos fatos totalmente desgastados
pela mesmice dos problemas sociais.

São páginas que muita gente não lê,
mas escreve todos os dias;
são vítimas da demagogia
de palavras amestradas
e idéias doentias.

E o líder desconhecido
quase que peregrino
no meio da multidão,
em seu silêncio grita
desesperadamente em vão.

1992

Patriotas profissionais



Choram uma lágrima forçada
quando vêem a pátria estuprada
e nunca se levantam da mesa
para tentarem salvá-la.

Na gaveta, a verdade guardada:
receio de ter a cadeira derrubada.

São gângsters do terceiro mundo,
patriotas profissionais,
louvam a carestia,
sustentam multinacionais,
desnutrem bóias-frias,
colecionam serviçais,
manipulam a democracia,
distribuem credenciais,
promovem a pedofilia,
frequentam bacanais,
agradam as oligarquias,
assassinam líderes sindicais.

1991/2000

Caminhos ásperos



Volta e tenta,
se errar, nao esquenta, não;
só quando a gente se enfrenta é que sente
que tudo mudou,
mas o sonho não acabou.

Segue um rumo,
não teme a revolta, não;
só na partida é que a gente se lembra
que um gesto marcou
a ausência de quem ficou.

Solta o teu grito
invicto à luz da razão
e renuncia ao teu rito
contra a liberdade de expressão;
com um verso perdido
no dorso da imaginação,
no voraz retrocesso
do enredo de uma nação.

Abre a mente,
procura uma explicação
para ser mais um radical se entregando
aos esquemas servis
desse jogo de inanição.

1990

Mano a mano


Portando imagens cruas
em nossas mentes dependentes
de uma dose violenta e ágil
de qualquer coisa fácil
de se obter nas ruas,
captamos versos ocasionais,
unindo verbos elementares
e substantivos triviais,
pra num gesto automático
de olhar cinematográfico
contemplarmos o neón do tráfego
sob o dínamo espacial
da noite industrial,
uivando as palavras cultas
com que contemplávamos
os predicados absurdos
de qualquer sujeito oculto
em cada um de nós,
mano a mano com a vida,
envoltos na ferrugem
de qualquer lembrança esquecida
nas canções desconhecidas
que sabemos de cor.
1991

Abrindo o jogo

Amamos os rótulos
e desprezamos os conteúdos,
criticamos os fatos
e invejamos as ações,
fugimos das regras
e não somos exceções.

Nossa culpa é superficial
a desculpa artificial;
as virtudes escapistas
e a alienação total.

Naturalizamos o industrial
e industrializamos o natural;
da tragédia, fazemos a comédia
de chorar por não poder rir
e por nao termos para onde ir,
nos aventuramos no precipício,
sem paraquédas, bem no princípio,
mas era tão raso o abismo,
que no fundo reconhecemos
que adolescemos e adoecemos por isso.

A lição não será ensinada,
pois ainda não foi aprendida,
e se o nosso grito é nulo,
quem dirá ao mundo que somos jovens
sem forças para nada e tempo para tudo?

Perdemos as rédeas,
descemos o chicote
e perdemos o páreo,
mesmo acelerando o trote.

O amanhã é o mesmo de ontem
e será o mesmo amanhã de manhã.

1986

2 heróis


São 2 heróis arrasados nas noites de Sampa,
fugindo das rotinas sexuais insanas
de sherloquear amadoristicamente
as profissionais da noite leviana;
2 heróis tentando não correr o risco
de ver a morte surpreendê-los
muito antes do paraíso.

São 2 heróis solitários,
cansados da indiferença
da cidade imensa e fria,
2 heróis sugando a anastesia
e deposistando fantasias
no fundo de garrafas vazias.

São 2 heróis que a liberdade reclama,
répteis em extinção testando seus faros
se arrastando pelas ruas cegas de Sampa
sem ao menos uma lâmpada
contra a escuridão das noites em claro...

1990

Instrospecção


Bombas explodem
sobre a minha cabeça;
quero me ver a sós,
quero me ater a você.

Sombras me calam no escuro,
mudo eu procuro encontrar
algo que eu tanto persigo
e que só eu posso tentar.

Sem ter que te ver,
eu vou me encontrar em mim;
não sei o lugar,
mas vou procurar até me achar.

Sempre me encontro sozinho,
sempre procuro ser mais
do que talvez eu me julgue,
do que eles pensam que eu seja.

Meço a grandeza do espaço
e sinto caber em alguém;
quero só ter a mim mesmo,
quero não ser mais ninguém.

1989

Pátria


Desconta o teu vício
de ser livre para sempre
e não sofrer nunca mais
no teu lema sagrado,
escrito num suplício
inspirado na paz.

Deixa a gente pensar
que nada mancha
e tudo pode se apagar.

E a gente se tortura
até não mais aguentar,
se vai e quer voltar
e quando vai de novo,
mais velho está,
menos se pode tentar
esquecer o que se foi
sem saber onde vai dar,
esperar que um dia
tudo possa terminar.

1989

Nós, nova geração


Fico sempre olhando pra você,
imaginando novas cenas entre nós,
eu passo o dia todo tentando entender
a que limite o mundo tende a nos levar.

Leio cartas antigas,
me perco no tempo,
procuro forças pra encontrar
alguém que me diga porque
tanta insistência em manter oculto
o passado de nós, nova geração,
atos reprimidos,
promessas de um novo verão;
nós, nova geração,
fatos concebidos
por vícios comuns de acepção.

Tanta gente vivendo sem razão,
só esperando que algum dia
alguém lhes diga se exista ou não
uma missão a ser cumprida por nós,
que ainda podemos levar adiante
esse mundo tão desigual
que aos poucos se acaba nas mãos
daqueles que nos rotularam o futuro e pararam.

Nós, nova geração,
sempre a espera de sim
(ou não?)

1987

11 agosto 2005

Na busca de um destino


Eu quis perseguir a vida
e tirar os pés do chão,
voar num sonho perdido
em algum lugar do coração.

Mas era preciso lutar,
na busca de um destino,
fazer de tudo um ensino
pra poder recomeçar.

Eu precisava continuar!
o futuro me esperava
e o tempo apressava
em me fazer andar.

Era preciso lutar,
na busca de um destino,
deixar de tudo um ensino
pra poder recomeçar.

Conheci a liberdade
E juntos construímos
uma forte amizade.

A ganância me fez parar,
tomando conta do meu coração;
o amor cruzou o meu caminho
e me deu a última lição:

É preciso lutar,
na busca de um destino,
deixar de tudo um ensino
pra poder recomeçar.

Eu passei a olhar mais fundo
e aprendi que pra seguir na vida
é preciso encontrar
seu verdadeiro lugar no mundo...

1985

Inocente Paixão Adolescente - parte(m) dois


Arriscamos tudo o que tínhamos
para pagar o que devíamos;
o amor prevalescia,
nenhuma importância importava,
e se o preço alto nao valia
a dor que do peito emanava,
é porque decerto ninguém sabia
o tanto que tão pouco nos custava.

A juventude morria
e a gente corria
para tentar se salvar,
e se um de nós se perdia,
olhava para trás, não entendia
porque o outro não havia chegado,
olhava para os lados, sentia
a falta de quem tinha passado,
é porque decerto não sabia
que lá na frente algúem sorria,
a mão estendia
e com voz macia dizia
ser apenas mais um
esperando por nós dois,
que a distância entre adolescer e morrer
é a mesma entre ser e vir a ser,
e para não ser senil,
é só ir, sorrir e amortecer
se o amor tecer
uma história infantil.

1988

Inocente Paixão Adolescente - parte um



Perdidos no teu jeito de ser,
meus olhos são réus culpados,
presos aos ferros pesados
da obsessão de te perder.

No calor do retorno,
ainda sentimos frio,
mas de que vale o exílio
sem anistia como desafio?

Atônito, brada meu coração:
- Cego sentimento eloqüente... diz!

- De onde vens?
- Para onde vais?
- Quem és tú?
- Nada mais!

E assim, mesmo inocente,
sou um condenado;
nas grades, meu coração doente
é mais delinqüente desesperado.

1986

Formas de liberdade


Não fica assim
dando esse olhar de reprovação,
como se fosse ouvir
mais uma explicação
só pra me ver fugir;
Me mostra um caminho então,
mas me deixa seguir!

S e tudo mudar
sem eu perceber,
o filme acabar
e eu nada sofrer:
é tudo o que eu sempre quis ter...

Formas de liberdade, eu sei,
tomam agora o seu lugar,
como um exército que vem
pra nos conquistar.

1988

Para todo e qualquer homem


Recolhe o teu suór e faz dele a argamassa que vai erguer tua muralha contra o mal. Evoca tua força de vontade e faz dela um tijolo a mais na tua construção. Recolhe as pedras que cairem sobre ti e sobre elas conduz tua vida. Ingere a verdade e tem orgulho dela. Quando tua obra estiver pronta, terás a certeza de que podes ser feliz.

1985

Coração hippie


Vejo o tempo passar em segredo,
vestindo um velho jeans desbotado,
que, assim como meu coração,
não tem mais conserto.

Meus cabelos cresceram,
assim como minha dor,
pela perda do meu amor.

No meu corpo,
tatuagens não desaparecem,
assim como esses casos de amor
que as pessoas não esquecem.

Meus cabelos cresceram,
assim como minha dor,
pela perda do meu amor.

1984

Uma nova emoção


Eu não vou mais
voltar a te procurar,
pois já cansei
de olhar pra trás
e não ver ninguém.

Se eu tivesse sacado
que tudo entre nós
já havia acabado faz tempo,
eu partia pra outra
que fosse melhor.

Não esqueci
das coisas que fizemos juntos,
mas percebi
que aquilo tudo
era um outro mundo,
onde a fantasia rolava
na tua cabeça e no meu coração,
e a gente curtia
uma nova emoção.

Ah! Um dia, a gente ainda se encontra
e nesse momento você saberá porque
tão desiguais nossos sonhos
em busca de um novo lugar pra poder,
num novo amanhecer,
se encontrar pra viver!

1986

Será que vale a pena?


Olhe para você mesmo
e reflita se vale a pena
se desligar do mundo
para fugir de um problema.

Será que vale a pena?

Será que vale a pena
se ligar num lance
que te tira a chance
de se encontrar na vida
e procurar uma saída?

Será que vale a pena?

Não, não pode ser
que você se deixe levar
pelo medo de perder
se é capaz de lutar e vencer!

Olhe para frente!
Será que você nã vê?
Tanta coisa ficou
ainda por fazer!

1986

Pode ser você



O tempo vai passando
e o que é novo envelhece,
mas certas coisas da vida,
a gente jamais esquece.

Ontem o mundo chorou
por Hiroxima e Nagasáqui,
hoje ainda resta o medo
do amanhã que ninguém sabe.

Um dia, tudo pode acabar
e ninguém saberá porquê;
alguém precisa fazer algo
e esse alguém pode ser você.

Em algum lugar,
a paz permanece obscura;
mas como achá-la,
se ninguém a procura?

A vida se perde no nada,
nâo pode roubar os sonhos da gente,
embora a morte seja o fim
e o fim para sempre...
1985