05 janeiro 2006

Sentidos tortos


Volto à caverna
sem ter tido o tamanho do meu silêncio
Volto à caserna
sem ter comigo a lembrança da minha guerra
Volto ao umbigo
sem ruído...sem ter visto a luz
sem ter lido a sentença do meu destino
sem ter na carne a chaga do meu martírio
sem ter na face a sina do meu menino.

Mas afinal...quem sou eu?
o que fui não me pertence
o que ruí não me alcança
o que vem não me toca
o que vai, vai sem troca
o que cai não me choca
nada mais me abala
ninguém mais me fala
nem tampouco importa.

Sou um buraco que eu mesmo fiz
sou um retrato que nada diz
sou um processo, que por um triz
ficou sem terra, ficou sem giz
tomou o inferno por seu país
e fez da saudade uma meretriz
pra em sua alcova se divertir
e na nostalgia poder dormir
e nessa orgia se distrair
e nesse dia se convencer
sem alegria, sem padecer
sem gritaria, sem alarde
sem putaria, sempre covarde
sempre de dia, sempre à tarde
sempre sem rumo, sempre sem arte.

Torto,
sem ruído,
sem ser notado,
sem ser vivido,
sem ser visto,
sem sentido.

06/01/06

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