11 dezembro 2005

O excesso de não ser



Sem palavras pra me desculpar
Sem palavras pra me entender
Sem palavras pra me calar
Sem palavras pra poder morrer

Sem palavras pra pedir que a vida me traga a paz
Sem palavras pra impedir que tua falta me faça capaz
Sem palavras pra medir a angústia que me destroça
Sem palavras pra mentir a mentira que me redime

Sem palavras pra te pegar pela mão e mostrar que eu ainda existo
Sem palavras pra me encontrar e me situar
Sem palavras pra rezar e pedir ajuda
Sem palavras pra parar o tempo e mudar essa história

Sem palavras pra cada momento em que você me tocou
Sem palavras pra lutar contra as chamas que o instinto soprou
Sem palavras pra ajudar a quem tanto me suportou...e tanto me amou...e tanto me ocupou...e tanto queimou dentro de mim
Sem palavras pra urrar a latência da minha dor
Sem palavras pra drenar a carência do teu calor
Sem palavras pra inventar uma forma de te invadir
Sem poesia pra acordar de novo ao teu lado e só existir

Sem coragem pra lutar
Sem coragem pra sonhar
Sem vontade de sobreviver

Hoje eu morro pra tudo o que eu um dia acreditei ser
Hoje eu corro pra um fundo de poço em que eu jurei nunca cair
Hoje eu quero que tudo se acabe sem que haja ao menos um lugar pra eu me encostar
Hoje eu espero que essa lágrima chegue ao seu destino pra que eu descanse em paz
bem no 'meio' do quarto onde o teu sentido puder te alcançar

Hoje eu sofro por tudo o que de estranho foi colocado em mim
Hoje eu choro por todo o podre que aconteceu por mim
Hoje eu lamento por um dia ter cruzado esse mundo sem fim
Hoje eu escarro todo o respeito que me foi ensinado
e pra quem tem pena eu digo
a realidade é a mesma pra todos
o que muda é a quantidade de sono em cada alma perdida nesse chiqueiro em que vivemos

Se há lamento, há a memória da lascivia
se há tormento, há uma história ainda viva
se há excremento, há moral e há quem diga amém
pois de outro modo seríamos menos fechados
seríamos menos castrados
seríamos menos pervertidos, menos afetados
seríamos mais amenos, e conscientes da falta de razão
da falta de motivos pra estar sós nesse momento
da falta de controle do nosso pensamento
da falta de coerência do nosso sentimento
da falta de ausência no nosso afastamento
da falta de ilusão no nosso dia-a-dia
da carga de esgotamento
da falta de ação, do excesso de movimento
da falta de prazer, e
do excesso de não ser.

talvez por já ter partido
ou pior...por nunca ter existido
talvez até por ter sido esquecido
por quem temeu nunca ter sido.

01/08/2005

Um comentário:

Anônimo disse...

A "coisa" mais linda que eu já li na vida, simplesmente perfeito.