11 dezembro 2005

Instintos



Vivo entre minha raiva e minha biologia
Fico mais longe a cada passo que dou
Sei que devia ter parado, minha alma pede descanso há tempos
A culpa incorpora as minhas ressacas
O medo se alimenta de minhas esperanças
O silêncio, um antigo amigo, agora me assombra
Sinto o exato limite onde deixo de ser
Sou o retrato de um crime, onde eu devo morrer

Minhas verdades ficaram no tempo em que eu era alguém
um tempo em que um espelho era suportável
um tempo em que eu sentia ser parte de algo
um tempo em que eu não via meu fim como algo necessário
(talvez necessário pra muitos)

Minhas certezas foram todas embora
Minhas riquezas foram todas deixadas
Meus amigos foram todos seguir suas vidas
e eu descobri não ter uma
Meus parentes ficam se perguntando onde estou
Meus pedaços se repelem em asco
Minhas lembranças se tornaram estranhas para o que me tornei
Minhas heranças são um fardo pra quem possa chorar ao ler meu epitáfio

Meu conflito açoitou inocentes
meu grito calou
Meus atos fizeram de minha imagem
a sombra de uma vergonha para os meus
Minha saliva secou as bocas que me deram morada
Minha saudade selou a forca que me impingi
Meu sêmen jorrou

Quero sair pelo mundo
andar sem destino
chorar sem alívio
Quero a purificação
quero o descanso
quero o fim desses dias
uma vida já foi suficiente pra mim
uma partida já foi clara pra um sim
um lamento
um sorriso
um caminho
um adeus

08/11/2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Quero tua mão na minha
a me guiar de dia
quando meus olhos fecharem.