18 janeiro 2007

Desperto


Voa meu passáro,
busca a vida sem medos e sem preconceitos
Tua gaiola ficou aberta por que esse era o teu desejo
tua lanterna ficou acesa porque buscavas caminhos
Leva contigo todas as possibilidades do nosso amanhã
Deixa comigo todos os fragmentos do nosso verão
Deixa a saudade....deixa a latência
Usa a verdade e não esquece da aparência
Pois essa é tão ou mais importante que a outra
pois é a moeda do mundo
é o passaporte pro inferno

Soltei todos os meus pássaros
A vida cativa matava algo dentro de mim
A escravidão do meu olhar me nauseava e me amargava
O acoite do meu toque me surpreendia no meu próprio sentido de mim
Quis todos os meus pássaros voando livres
Fiz todos meus diálogos pra viver leve, dormir tranquilo
Pra poder não acreditar em mais nada nem ninguem
Pra poder não esperar mais nada de ninguém
Pra poder não roubar suspiros
pra poder não chamar vampiros
pra poder cravar com tiros as vítimas da minha soleira

Soltei teus laços
Abri meus braços
Cantei as nossas músicas pra me esquecer
guardei as minhas suplicas pra te poupar
Tentei limpar as memórias também
Tentei lembrar de te ver com alguém
Calei sozinho, pensei no espinho, sem ter ninguém
Tudo isso pra ficar só
Tudo isso pra voltar pra casa
Tudo isso pra fechar as feridas e abrir as asas

Que raio de egoísmo é esse que abre mão do doce
que raio de fascismo é esse que sempre me envolve
que ponto de partida é esse ao qual sempre retorno
que saco de pancada é esse que eu sempre me torno
que medo de tristeza é esse que sempre me espreita
que tipo de ternura é essa que sempre me corta
que tipo de amargura é essa que sempre me volta
que tão sutil teu jeito que às vezes me falta
que tão gentil teu peito que sempre me acalma
que tão febril teu leite
que tão pueril teu flerte

Se eu nao tivesse medo de viver
faria cinco encarnações nessa existência
Se eu nao tivesse medo de ferir
daria vida então à toda a minha incoerência
Se eu nao tivesse um jeito de implodir
viveria toda a poesia que jamais escreverei
Se eu fosse mais livre de mim
Se eu fosse mais dono de mim
enfim

Hoje as pessoas estão todas com a garantia vencida
Meu primeiro tiro falhou
Talvez fosse o único
...e eu acreditando ainda ter balas na agulha
Hoje eu não consigo mais acreditar em ninguém
não tenho mais tempo pra me entregar
nao tenho mais forças pra me resgatar
Assisto de longe...resisto

Pra onde olho vejo mendigos
mendigos de dignidade
mendigos de atenção
mendigos de afinidade
mendigos de coração
mendigos da sociedade
mendigos da situação
Não tenho pares pra continuar
Não tenho ares pra me guiar
não tenho bares pra me embriagar
não tenho um copo amigo
nao tenho um abrigo...um lar

Minhas palavras ficaram sem eco
Minhas lembranças sem teto
Meus anseios ficaram no asfalto
meus receios me assaltam
minha esperança ficou sem atores
minha criança sem fronte
minha certeza sem fonte
minha prudência sem norte
minha doçura sem pote
dispersa
sem sorte
imersa
sem volta
morta

4 comentários:

Anônimo disse...

Nas minhas anotações achei esta pro TI

"Recordação age como uma lente convergente numa câmara escura. Concentra tudo, e a imagem que resulta
e muito mais bela que a original"

Umberto Eco

Anônimo disse...

Qual TI escreveu ?

SERUMANO disse...

A que parágrafo vc esta se referindo??

Anônimo disse...

Pergunto a respeito da 3ª e 4ª estrofes ou vocês escrevem os versos em alternância?