21 janeiro 2008

O resgate do Traficante


I.
O dia não amanheceu.
Eu me encontrava acordado
O sonho não aconteceu
A vida tomou novos rumos
e um estranho parecia habitar meu espelho

O problema dos dias cinzentos
é que dão a impressão de que o sol morreu
de que a alegria não mais nos servirá
de que a nossa capacidade de amar amarelou
de que a nossa energia pra renascer
deu lugar a uma morte lenta e amarga,
de que somos desinteressantes e feios,
de que não merecemos alguém, que porventura,
ainda se engane (ainda) nos querendo bem,
seja porque não percebeu que um monstro passou a nos habitar,
seja porque sabota o nosso 'mood' de "não sou digno de amor".

Não caibo na minha casa
Não sirvo nas minhas roupas
Não gosto dos meus livros
Não me aguento mais
Não me encontro em mim

Não consigo gostar
Não almejo sorrir
Não suporto ninguem
Não preciso acordar
Minha barba cresce me aproximando de mim
Meu sono me alivia do peso das horas que custam a passar
Meu sexo é apenas um lembrete
de que ainda existe vida em alguma parte do meu ser
Meu nexo é apenas um farolete
cujo alcance não me permite ver futuro além da próxima hora.


II.
O dia amanheceu
Saí do tunel que me aprisionava
Não me questiono por onde andei
mas como fui parar lá?

Não me censuro pelo que fiz
mas como nao percebi?

Não me torturo por que não fui
mas como não retornei?

E entendo que não sou mais aquela pessoa
e que simplesmente fluí,
como aquele rio pelo qual ninguém passa uma segunda vez
Mas fluí livre, com minha própria energia
renascendo e ressucitando meu ser
me resgatando em cada pedra, cada tombo
em cada queda, cada encontro,
em cada sonho e cada assombro
em cada choro, cada desconforto
em cada dor, em cada confronto
cada solidão, cada desencontro
em cada mão, em cada ombro
em cada chão, em cada pranto
em cada colo, cada acalanto
em cada flor, em cada encanto
em cada reza, em cada manto
em cada toque, em cada ponto
que me trouxe a mim
forte
feliz
realizado
pronto pra recomeçar

...mas agora completo