29 março 2006

Refração


Somos o que sentimos
Somos tudo o que reverberamos
Somos tudo o que vive dentro de nós
Somos tudo o que tornamos realidade pela nossa percepção
Somos toda a potencialidade que existe à nossa volta
Somos a latência
Quem somos?

Somos o que dizemos
Somos o que pensamos
Somos nossos amos
Somos o que quer que façamos de nós mesmos
..."não importa o que fizeram de nós"
Somos o que quer que olhemos nos nossos espelhos
Somos o limite extremo dos nossos artelhos
somos os joelhos...somos a sentença
Fomos ausentes...somos a doença

Se a medida da certeza fosse a madrugada
eu não teria tempo...eu não veria nada
Se o sentido da saudade fosse a consciência
eu dormiria cedo...eu não teria alento
Se o segredo da passagem fosse mais estreito
eu viveria sóbrio...
e seria apenas um sopro de vento
e seria ameno e estaria atento
sem palavras
sem lamentos
sem verbo
sem sentimentos
livre
sem pensamentos
sem cor
sem questinamentos
sem sabor
sem ensimanentos
sem pontuação
sem lições
sem intenções
simples
sem fim

09 março 2006

Epílogo


Mais uma página se apaga na areia
o vento traz novos rumos
o tempo faz novos elos
a agua leva os farelos

O silêncio é novo para quem ouve
as cinzas ficam inertes
os ombros ficam mais leves
os dois finais se encontram no tempo e no espaço

Quem estaria presente se houvesse amanhecer?

Ao contrário de tudo o que se viu
os signficados já eram maduros
e os sinais foram traiçoeiros desde o início
Quais seríam as evidências da mudança
se o desespero não forçasse os rumos?

E o limite foi além da resistência
em águas revoltas
em barcos instáveis
em almas vulneráveis

E as bandeiras ficaram rasgadas
e os rostos se mostraram
e as maneiras traíram
e as fraquezas ressurgiram
e sobrepujaram o belo
e desafiaram o que era esperado

Já vi castelos ruírem
já vi gigantes sucumbirem
já vi a tristeza
já vi a cicatriz latente
ja fiz o corte
já duvidei da sorte

Se os temas pudessem ser escolhidos
se os lemas fossem seguidos
se os poemas soprassem nos meus ouvidos
então a morte seria breve
mas os abismos não
e o meu galope seria leve
e o ceticismo um dom

Enquanto houver vida haverá talvez
pois as portas permanecem fechadas
e a repetição absolve culpa das nossas derrotas
Enquanto houver sonho havera nudez
pois mesmo envoltos em nossas fachadas
o desalento salta aos olhos
e torna patente a desolação

Não é a profundidade que traz o encanto
nem mesmo a sorte
nem mesmo a rigidez que torna santo
não é a dor
nem mesmo a dor
que põe no olhar um sentido próprio
Sejamos plácidos
Sejamos práticos
Sejamos lúcidos

Se o sentido fica vago ou mesmo ausente
é na estética que me apoio pra seguir em frente
sem rumo e sem rima
sem prumo e sem sina
puro, sem preocupações
completo, sem abreviações
discreto por opção
mas sem dividas e sem perdões
sem dúvidas e sem sermões
contraditório, sempre
explícito, para quem pode ver
solícito, mas sem parecer
ilícito.